Grafia Biológica
Nasci.
E de imediato me vestiram com um nome. Só fui perceber isso após insistentes sons repetidos. Tão repetidos que passei a acreditar que esse som era o que diziam ser o meu nome.
Acostumado, convencí a mim mesmo que eu era realmente esse nome. E o que é um nome ? Não sei dizer, só sei que me indentifico muito com ele. Acredito até que sou ele e que ele sou eu. Passaram-se anos e o nome continua firme, fixado ao que parece, na atenção dos outros que também acreditam serem o nome que possuem. Pois se assim não fosse, como saberia que tenho o nome que sou? Acho até que somos possuídos pelo nome. Se não o tivéssemos, não teríamos uma identidade; não seríamos esse ser “social” registrado na vida pra ter garantida a confirmação de nossa existência.
Tenho um nome, logo, existo. E sem um nome? Como eu a mim iria me referir? Eu, somente eu por detrás dessa figura aparente, desse “eu instituído e nomeado”, me atenderia ao chamar-me não pelo nome, mas pelo que sinto, pelo que penso, pelo que possa intuir, pelo que conscientizo.
Morri.
Ficou para trás um corpo, um nome, um ser social que se dissolve com o tempo.