Eu deveria.

Eu deveria saber que não seria tão fácil enfrentar as coisas que viriam pela frente. Nunca fui tão forte ao ponto de conseguir ignorar tudo que aparecesse pelo caminho, por mais que mostrasse sempre o contrário. Quem via, de fora, pensava que eu era uma fortaleza e, de fato, parecia ser.

Eu deveria saber ser grata pelas coisas boas que me aconteceram, mas só consigo pensar nas ruins e nas que ainda estão por vir, por que a dificuldade nunca cessa realmente, mesmo que tudo pareça estar bem, isso provavelmente durará apenas por alguns segundos.

Mas ninguém sabe o quanto viver é maravilhoso até que a realização de um sonho acontece. Quando eu digo que não poderia estar mais feliz, sei que isso é uma felicidade passageira. Eu sinto. E minto. E cada um sabe a dor e o prazer que é ser o que é. Eu nunca estou satisfeita com nada. Mas deveria.

Eu deveria. Deveria muitas coisas. Tantas que a maior parte desse texto vai começar com isso. Eu deveria desenvolver gratidão, abrir os olhos e enxergar além. Deveria ignorar o apelo do meu subconsciente que diz constantemente que tudo continua dando errado. Deveria ignorar já que as coisas – provavelmente – estão se ajeitando. Mas a verdade é que eu continuo me importando demais.

Mas e quem é que sabe? Ser grato nunca pareceu ser fácil. Eu estou feliz. Juro que estou. Mas é que eu sou egoísta demais. Tão egoísta a ponto de querer ter sempre mais do que o necessário. Talvez seja por que eu ainda não aprendi bem a lição. Quem sabe?

Queria conseguir demonstrar ser o que eu sou. Que basicamente se refere a uma garotinha que continua com medo de viver. Viver de verdade. Mas é tão mais fácil fingir ser o que não sou que já realizo e assumo muito bem esse papel.

Não é fácil. Nunca é. E eu nem queria que fosse, entende? Eu só queria conseguir demonstrar um pouquinho dessa vulnerabilidade que é ser o que eu sou. Queria conseguir mostrar que eu não sou o monstro que costumo fingir ser. Mas é mais fácil e menos doloroso fingir ser quem eu não sou. Só assim consigo realmente me sentir protegida. De tudo, talvez.

Denise Berman
Enviado por Denise Berman em 03/06/2015
Código do texto: T5265338
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