Na trilha de Proust

Quando se aproxima o fim da estrada e a mente pede que o olhar se demore mais no movimento das flores, no revoar de um pássaro, nas cores das borboletas que surgem de repente emergindo de um pequeno arbusto, no sol que parece brincar de esconde -esconde atrás das árvores, e para que o ouvido mais atento do que nunca perceba a canção do vento suave, a conversa de duas maritacas que passam voando tagarelando em seu estranho idioma;

Palavra por palavra saboreio e releio frases inteiras, me assegurando de que senti o perfume, que percebi mesmo os pequenos movimentos dos olhos, um franzir de testa ou mesmo um olhar dissimulado dos personagens, uma flor que desmaia em um vaso sobre o piano, enfim cada nota de rodapé.

São as últimas cem páginas do volume de número cinco, do Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, mesmo sabendo que ainda resta mais dois volumes pela frente, um bom trecho de estrada, já estou sentindo saudades dos momentos de A prisioneira.

Feliz e agradecido por ter conhecido este fantástico escritor, com quem estou aprendendo que há em minha volta um universo infinito de possibilidades de descobertas e de experiências, e quando digo em minha volta, como ele refiro-me ao espaço e ao tempo. Com ele também estou aprendendo a viajar ao passado e rever experiências, tomar ciência do vivido para compreender mais profundamente o adulto que me tornei e estar preparado para aproveitar melhor o presente em todos os sentidos com todos os sentidos.

Ler a obra de Marcel Proust é embarcar em um projeto, em uma aventura sem volta.

Generoso olhar trasndisciplinar. Ele te empresta os óculos e você aprende a ver, depois então passará a ver com seus próprios olhos, e a realidade então, digo as pessoas, as relações entre elas, as cores, a música, os livros, as flores, enfim mesmo os objetos em seus pequenos mundos, nunca mais serão os mesmos.