Esse tal moço...

Certo dia avistei ao longe um menino, menino esse com “m” de mar, mar calmo, aquele que parece não ter perigo, convidativo para nadar.

Nele se esconde um infinito, uma vastidão de incógnitas sem chance de decifrar, vários porquês, muitos saberes e por mais que ele conte os contos, nos seus olhos é só reticência que vejo como ponto.

Esse menino instiga, castiga, mastiga e mesmo assim parece o certo, para a vida. Ele parece que foi moldado, criado, feito artesanalmente pelas melhores mãos, ele parece não existir, quem sabe é mais uma doce ilusão.

Volto a falar de mar, mas do mar em tormenta, aquele que mata, que fere, e da própria dor se alimenta. Aquele que quando revolto, afoga, afoga toda a possibilidade de ser livre, que destrói tudo que vê a frente, como se chorasse o coração de quem ali dentro vive.

Ele se fecha, enclausura como se do mundo surgisse a culpa, culpa pelas dores, pelos dissabores, por tudo que um dia ele sofreu por amores. Até parece que a dor é só sua, que ao redor do mundo, uma porção de corações não está em busca da cura, da cura do amor, da dor que não mais se atura.

Eu mesma, que vos falo, por muito sofri a tortura, até entender que quem mantem a dor é quem mais pena em busca da cura. Se a gente esquecer, guardar, deixar de canto para não mais ver, a gente esquece, e aos poucos a dor esmorece como se não tivesse nunca nascido, e do coração ferido, curado às turras, renasce como fênix, sem resquício da laceração que por tempo fez-se lamúria.

Em alguns dias ele parece o céu, refletindo a areia do mar, aquele céu claro, tão limpo que nos perdemos ao olhar. Mas tem dias que ele se cala, mas não deixa de falar, cada palavra não dita é como a história de uma vida, é como milhares de anos gritando , é como tudo que ele mais quer repetir na vida.

E se não bastasse seu encanto, suas palavras me lançaram feitiços, magia de apaixonar. Não sei se é fera ou príncipe, quem sabe um vagante qualquer, sem porto, perdido, em busca de um abrigo, nos braços da primeira mulher.

Quem sabe ele é o meu pedido, de uma vida, do meu instinto, a dita alma para comigo transbordar. E se for um perigo, sonhar com esse menino e acordar engolida por ser mar.

Ainda penso nesse “m”, tão forte quanto o tronco da maçaranduba, tão bom de morar quanto o baobá, penso em um homem forte que soube transformar o amargor em amar. Mas será que vale a pena insistir em mais uma profunda incerteza, em um desconhecido, fazer-me novata nessa história de doar?

Vejamos o quanto dura, essa espetacular mistura entre sua postura e

o meu olhar, digamos que, enquanto você caça à procura eu vento a te guiar. Nos vigiemos, nos encontremos e vamos nos amar.

Não venho de meias palavras, de meios romances ou meio amar, sou inteira, tal qual um estrondo de raio no mar. Afirmo que sou verdadeira, e espero que entenda que já era recíproco antes mesmo de você sentir e perguntar.

(F.S)

FauS
Enviado por FauS em 02/06/2015
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