NAQUELE BANQUINHO
Todos os dias quando eu retornava para minha casa eu passava em frente à casa de Dona Leonor. Sentada em um banquinho que alguém fizera na calçada ela ficava ali, sentadinha olhando as pessoas passarem.
Provavelmente ela se sentava ali depois de terminar os afazeres domésticos. Ela morava com um filho, porém ele saia cedo para trabalhar e ela ficava o dia todo sozinha.
No momento em que eu passava por ela eu sempre a cumprimentava.
-Boa tarde Dona Leonor! Tudo bem com a senhora?
Nesse momento ela “despejava” um monte de lamentações:
-Que nada “fia”. Eu não consegui dormir direito essa noite de tanta dor nos braços. Olha (dizia ela tentando erguer os braços) eu não consigo nem pentear mais meus cabelos, por isso que eu mando cortar ele bem curtinho. Meu “fio” que penteia para mim antes de ir trabalhar.
-Ainda bem que ele tem paciência de fazer isso para a senhora, tem filho que não faz nada para os pais sendo que eles fazem tudo por eles.
Conversava com Dona Leonor por mais alguns minutos depois ia embora, mas (confesso) que em alguns dias quando eu estava com pressa eu mudava de calçada só para não ter que conversar com ela, pois eu sabia que ela sempre iria se lamentar da vida e das dores que sentia.
Hoje ela já morreu. O banquinho no qual ela sentava agora está vazio. Quando eu passo na calçada sinto uma tristeza e penso:
Eu devia ter tido mais tempo para conversar com ela. Talvez fossem os únicos momentos em que ela tinha alguém para conversar e sentar naquele banquinho era uma busca de companhia.