O espírito mental
O espírito humano, aquilo que nós somos, aquilo que estamos, nossa característica de ser, de sentir, de se comportar, e de realizar nossa existência como seres únicos, é complexo, é mutável, e é passível de indução, mas sempre será reflexo da emergência mental momentânea do status (da condição) “bio-neuronal” que, em um determinado instante espaço-temporal, é sustentado pelo circuito físico-químico-biológico de nossos neurônios, bilhões deles, em muitos trilhões de conexões sinápticas, fazendo do cérebro a estrutura mais complexa conhecida em todo universo conhecido, Um único cérebro humano, de um humano médio, possibilita um número tão grande de combinações sinápticas que sua contagem explode em direção ao infinito, nos levando a ter uma possibilidade de variações sinápticas maiores que todo o número de estrelas em todo o universo conhecido, é algo realmente espantoso, é algo realmente de se admirar. Mas espera aí, tudo isso, toda esta complexidade, me faz mutável? Me faz ser diferente hoje do que era ontem, e me faz ser amanhã diferente do que hoje sou? Sim, a resposta é sim. Mas mesmo assim, ainda me faz sofrer de mera indução? Posso ser influenciado pelo que vejo, pelo que ouço, pelo que leio, e pelo que secretamente penso? Sim, este estupendo e maravilhoso cérebro, que no fundo é o que somos, é o que temos de nós mesmos, é o que posso dividir com amigos, com conhecidos e com todo o mundo, não é resultado de projeto algum, não tem destino final em sua caminhada, não foi selecionado para ser perfeito, e sim porque foi útil e permitiu que cobríssemos um nicho biológico, um nicho ecológico que nos permitiu estar aqui hoje, eu escrevendo e você lendo, concordando ou não, e desta forma ele é cheio de falhas, cheio de bugs.
O cérebro é um órgão cuja principal “magia” operacional é ser auto operado pelo ligar ou desligar conexões, e ele o faz constantemente, e muito bem, reforçando algumas, criando outras novas, e desligando outras mais, desta forma somos eternos mutantes dos seres que nos compõem. Ao retornarmos para casa, após um simples passeio, já temos um circuito neural um pouco diferente daquele que tínhamos ao sairmos de casa, assim, já estamos um ser um pouco diferente daquele outro. É natural que isto não ocorra com todas as conexões sinápticas. Algumas já nascem programadas para serem ativadas e permanecerem, assim, conectadas, por todo um tempo sadio de vida mental. Estas ligações fazem parte de circuitos básicos necessários à nossa existência e sobrevivência, entretanto a porção mais recente do processo evolutivo cerebral, em geral a parte mais externa de nosso cérebro, entre elas o córtex, possui uma plasticidade muito dinâmica, e assim podemos aprender, esquecer, e ser quem somos a cada instante presente.
O espírito mental, é simplesmente a complexidade de nossa mente agindo, segundo cada slide instantâneo de nosso circuito cerebral, de seus hormônios, das influencias eletromagnéticas, de possíveis drogas e álcool, sendo assim totalmente imanente e pessoal. Me desviando apenas um pouquinho neste final, gostaria que pensássemos juntos. Se uma mente, em si só, já é algo de complexidade absurdamente elevada, tentemos imaginar um corpo social, que envolve milhares, milhões, e até mesmo bilhões de mentes operando conjuntamente, e muitos acham que o social é brincadeira de criança.