A felicidade
É licito buscar a felicidade?
Sim. Claro que sim. Infeliz daquele que nunca sentiu um instante e felicidade.
No fundo todos a buscamos, todos a queremos, e é ela um desejo natural a todos os seres humanos.
Entendo ser sem sentido questionar se desejamos a felicidade. Entendo ser mais que lógico e natural, que pessoas com o mínimo de sanidade mental desejem ser felizes, e que por simetria desejem esta felicidade também para os que amam.
O problema a ser enfrentado, é que felicidade é esta que desejamos? Como a buscamos? Que preço estamos dispostos a pagar por sua presença? Que preço ela realmente pode valer? Qual o limite de sua busca?
A felicidade é algo nobre, quando nobre é o estado humano que a constrói, e nobre são os atos humanos que a permitem. A felicidade é bela quando bela é a realidade humana de quem a busca. A felicidade é digna, quando digno é o compromisso social de quem a persegue. A felicidade só é realmente felicidade quando podemos perceber que não deixamos ninguém para trás em nossa caminhada, quando podemos olhar nos olhos dos irmãos e saber que tudo tentamos, que não subtraímos humanidade e dignidade humana de ninguém em nossa busca pela felicidade, quando não nos omitimos ou nos escondemos para podermos ter uma felicidade mesquinha, rasteira, perniciosa, vaidosa ou mesmo prepotente. Ser feliz deve implicar em sermos felizes. Ser feliz deve proporcionar a chance e a oportunidade deles serem também felizes.
Entendo que falar de felicidade implica em saber que ela não está fora de nós, não está nas coisas que utilizamos ou possuímos, muito menos está nas coisas que não temos. A felicidade é um sentimento que parece antagônico, ela está em nós, ela é vivida, sentida e realizada somente em nosso ser, não realizo a felicidade de ninguém, e ninguém experimenta a minha felicidade, entretanto, antagonicamente ao escopo pessoal e particular daquele que a experimenta, o seu alcance e o seu universo é, e deve ser, social. Realmente somente eu realizo a minha felicidade, mas ela só pode ser realizada no compromisso do meu eu pessoal em comunhão com o coletivo, em total comprometimento com a dignidade social e humana. É necessário um pacto sincero com a maximização da felicidade coletiva.
Apesar da felicidade ser algo introspectivamente meu, ela somente é possível quando emerge do coletivo social.
Cabe também comentar que não percebo a existência de uma felicidade absoluta e universal, de alguma felicidade transcendental ou estruturada em regras padrões, não creio em felicidade eterna ou perene. Não consigo acreditar que alguém consiga estar constantemente feliz, prefiro crer que ele ou ela estão mentindo, pois que teriam de ser totalmente insensíveis ao sofrimento dos outros para estarem em plena e continua felicidade. Acredito que exista uma vida média feliz, contudo uma vida esta pontilhada também de dor e sofrimento, todos estamos sujeitos as dores do viver, ou não seríamos humanos. Posto desta forma entendo que minimizar o sofrimento e a dor é também chegar mais perto da felicidade.
A felicidade não é encontrada pronta, não existe em prateleira alguma para ser comprada, não existe fórmula mágica, a não ser a do compromisso e da doação pelo todo. A felicidade não está a disposição como um produto, não a compramos, por mais que alguns o tentem, não a alugamos, não a obtemos por empréstimo, e nem por doação de terceiros. A felicidade é um estado de espírito mental, com interdependência social, por isto complexa, que deve ser construída em cada um de nós. Apesar dela não ser perene e nem eterna, vale muito cada momento com ela, por isto vale cada esforço na direção de sua construção, mas por favor, não quis dizer que vale tudo ou qualquer coisa para desfrutar dela.