CONFESSIONAL 2

Se eu pudesse, voltaria quase quarenta anos e cuidaria de meus dentes, vinte e poucos anos e não seria tão chato com a minha irmã, oito anos para abraçar a minha mãe e dizer o quanto eu a amo. Investiria naquele amor que nem chegou a tornar-se realidade, mas que talvez fosse a pessoa certa na minha hora errada. Não brincaria com os sentimentos de alguém só por que estava carente. E namoraria alguém chamada Ana só pra cantar Refrão de um bolero.

Mas é tarde. Meus poucos dentes não se acertam com a minha prótese, minha irmã já passou por chatices muito mais irritantes na vida, minha mãe morreu com menos de sessenta anos e o último contato que eu tive com ela foi um beijo no rosto (dado por ela, por que eu sempre fui sovina para demonstrar afeto). Os amores que não investi investiram em outros amores e as minhas próprias escolhas amorosas nem sempre foram as mais acertadas. E nenhuma das mulheres que eu tive tinha nome musical.

Ainda assim, tem quem me compre por guri e me dê trinta anos e não os quarenta e uns que a minha RG, sempre indiscreta, teima em escancarar. Continuo me debulhando em lágrimas sempre que assisto um bom filme e cantarolando desafinado sempre que sintonizo uma rádio que toca música boa (coisa cada vez mais rara nestes tempos de sertanojo universitário, funk e outras coisas que nem me atrevo a citar).

Já desisti de sonhar com a mulher perfeita. Mas ainda espero encontrar uma pra me chamar de seu.

E por fim, azuizinhos à parte: o Juquinha continua em pé e quase nunca falha quando preciso dele.