Ser de esquerda
Ser de esquerda não significa uma única e endurecida forma de pensar, de ser, e de perceber o mundo. Ser de esquerda significa muitas coisas, alguns tentam criar uma espécie de máscara, de rótulo, de receita ou bula, como se ser de esquerda fosse exatamente seguir à risca algum receituário ou alguma estrutura linear e inquebrantável de ideologia. Como dito antes, ser de esquerda significa muitas coisas, entre elas buscar ser libertário, sempre com responsabilidades sociais e humanas, buscar uma justiça social, não significa distribuir a miséria e a pobreza, ao contrário significa distribuir a riqueza, não significa por fim aos meios de produção, mas significa dar fim social e humano a estes meios, significa por fim ao dono do capital, significaria algo como “cooperatizar” todos os meios de produção e serviço (significa distribuir os ganhos por todos, pode significar até manter algum conceito de livre mercado, mas as fábricas e prestadores de serviço estariam trabalhando pelos seus pares, e não para enriquecer o dono do capital), significa educar plenamente a todos, não a uma elite, significa dar tratamento jurídico, e médico, a todos, com o mesmo nível de qualidade. Ser de esquerda significa desejar um bem-estar humano e social a todos, indistintamente. Não significa doutrinar o mau gosto, ou abrir mão do que se gosta, desde que o que se gosta tenha algum fim humano e social. Ser de esquerda não significa abdicar de saborear o que se gosta, de assistir e se divertir culturalmente. Uma pessoa humana de linhas e pensamento de esquerda é tão humano como outro qualquer, pode gostar de cinema, de refrigerantes, de hambúrgueres, de passear, e isto não o faz menos de esquerda. Ser de esquerda não significa aceitar o crime, aceitar a não corresponsabilidade com a produção, com a segurança, ou com o bem estar social de todos, pelo contrário, significa dar responsabilidades e deveres sociais a todos, e quem não se enquadrar deve ser primeiro motivado a fazê-lo, pelo bem de todos, por educação, por aconselhamento, por meios que o façam se sentir importante e valorizado na sociedade, me permitam, social (ser de esquerda significa valorizar o humano, o natural e o social), e se me mesmo assim, infelizmente, alguém não quiser participar da produção, ou da manutenção da sociedade, deve ser de alguma forma tratado como um ser não social. Ser de esquerda não significa por fim aos cursos superiores, um mundo de esquerda continua plenamente necessário de médicos, engenheiros, professores, advogados, cientistas, químicos, biólogos, matemáticos, psicólogos, comunicadores, repórteres, e de todas as demais profissões, por isso os cursos técnicos, superiores e pós superiores devem ser aprimorados pelo bem coletivo. Ser de esquerda não significa que seja desnecessário um setor público de segurança, ele é necessário, mas é também dar um fim social a ele. Infelizmente uma sociedade de esquerda também precisa de forças armadas, e assim também ela, como a força policial deve ser bem preparada, bem equipada e bem valorizada, como aliás deve todo e qualquer ente em um mundo de esquerda, desde que enquadrado como um ser que tem de ter sua parcela de participação ou produção neste meio. Ser de esquerda passa por garantir cidades e sociedades igualitárias socialmente, passa por manter cidades, bairros e ruas limpos e salubres, passa por garantir dignidade humana e social às cidades, sempre pelo bem-estar humano. Ser de esquerda significa muitas coisas, para uns um pouco mais disto, para outros um pouco mais daquilo, e para alguns, pode significar mesmo um mundo onde a filosofia anárquica pudesse ser plena. Ser de esquerda significa dar bom uso, pleno, e social para tudo, significa mais valorizar o humano, o natural, e social, do que a maioria pensa. Não significa ser um mundo de santos, mas significa um controle social natural de todos sobre todos, sem retirar a liberdade plena de cada um ser cada um, desde que este meu cada um não implique em sofrimento, exclusão, preconceitos, exploração, ou qualquer mácula para com o humano, o social e o natural. Tenho claras vertentes de esquerda, isso não significa que não aprecie desde um refrigerante de cola ou mesmo um vinho, que não goste de um bom churrasco, que não aprecie esportes, que não curta meu rock, que não dê valor ao conhecimento, pelo contrário exatamente porque aprecio isto, e não vejo mal social algum nisto, é que como de esquerda desejo que todos possam ter acesso pleno e social a tudo isto, desde que cada um faça a sua parte para manter o bem estar coletivo, e o desenvolvimento pleno da humanidade, assim, devendo ser ele um elo produtivo na cadeia global que permita o aprimoramento do próprio social, e o próprio desenvolvimento social, além da consciente aplicação social de tudo e de todos, desde as moradias, até a produção e os serviços. Eu não falei que ser de esquerda seja fácil, e nem que a construção de um mundo justo de esquerda seja também fácil, não, não é, passa por desapegos individuais, passa pelo fim da riqueza individual e familiar, passa por um estado político, legal, e econômico de difícil transição, mas é possível chegarmos lá, entretanto passa primeiro por uma conscientização, comprometimento, e transformação individual, colocando a empatia e coletivo acima dos meus interesses. O significado de um estado forte, não significa um estado ditatorial, este é um desafio com certeza, mas possível, significa um estado forte, com decisões coletivas e descentralizada, significa maior participação coletiva nas decisões uma vez que o intuito final de uma sociedade de esquerda é o bem social, e ninguém melhor do que eles próprios participarem diretamente e ativamente das decisões que os afetem, em qualquer nível. Ser de esquerda é ter a certeza que a tal da utopia não é tão utópica assim, que é possível, que é factível, e que não significa penalizar o humano, ou oferecer um mundo de carências, pobrezas e sofrimento, como um mundo social. Enfim, ser de esquerda também é uma condição relativa, ser de esquerda em relação a que? Posso ser de esquerda em relação a uma postura, e não ser em relação a outra. Apenas como exemplo, sou de esquerda em relação ao PSDB, mais de esquerda ainda em relação ao PP, muito menos de esquerda ainda em relação ao PSOL, mas mesmo em relação ao Psol, em alguns itens sou mais de esquerda do que ele, e passo a ser de direita (relativamente a postura do PSOL em alguns itens) em relação a outros. Não existe, a menos do estado anárquico total, uma esquerda absoluta, por isso ser racional, ser analítico, e ser crítico é importante na busca de um social mais pleno e justo, não existem fórmulas ou receitas predefinidas, fuja delas, ser de esquerda é apenas desejar o que leve e valorize um bem-estar humano, natural e social, de todos, e em escopos mais reduzidos do maior número possível de seres viventes..