Sou um ignorante
Sou um ignorante, eu ousaria dizer que no geral somos ignorantes com pose de senhores de seu próprio destino, travestidos de excelências humanas, e imaginados como um ser perfeito, nos achando o máximo, o ser corporal mais perfeito, quando na verdade somos apenas mais um ente biológico entre uma infinidade de outras espécies existentes ou que já existiram ao longo destes mais de 4 bilhões de anos de vida na terra, desde aqueles incipientes entes replicadores até a complexa biologia corporal de hoje.
Sou um ignorante por que pouco sei sobre tudo o que existe e sobre minha própria existência, pouco sei sobre o muito que existe para saber. Entendo que seremos para sempre passageiros de pouco conhecimento, pois que circunscritos por um cérebro e sensores imperfeitos, e limitados, talvez nunca cheguemos sequer perto do quase infinito de possível conhecimento sobre tudo o que há de natural para se saber.
Sou ignorante, mais ainda porque acabo, muitas vezes, esquecendo de minhas limitações naturais, de minhas responsabilidades sociais, e de minhas falhas e bugs mentais.
Sou ignorante de um cem número de coisas, mas não significa que ignoro tudo. Um cético absoluto defenderia que nada podemos ter certeza, mas eu apesar de valorizar um comportamento cético frente ao que há, não consigo ser um cético absoluto, e creio plenamente que sabemos muitas coisas. Eu sei que no extremo, tudo pode ser irreal, tudo pode ser virtual, tudo pode ser uma grande criação mental de um cérebro isolado, mas se eu entrar pelo mundo do pode, tudo acaba podendo ser, inclusive pode ser verdade que a realidade seja real. Desta forma, tenho muitas referências para acreditar que a realidade é real, mesmo que apenas subjetivamente percebida, compreendida, e coordenada por um cérebro que apenas percebe o exterior pelos sensores que possa ter, e pelo processamento de informações que recebe.
Sou um ignorante, que busca sempre e cada vez mais aprender, compreender, perceber e crescer como humano e como um ser social. Sei que não sendo perfeito tenho que ter muito mais cuidado ainda neste caminhar, para não cair na tentação do conhecimento fácil, do amor trivial (se é que o amor possa ser trivial), do realizar um viver rasteiro, do acreditar que a sabedoria pode nos dignificar mais que nossos atos, nosso comportamento, nosso compromisso social, nossa empatia humana, e finalmente do ser tentado a cair nas tentações fáceis do preconceito, dos interesses pessoais, e de um conhecimento falso.
Sou enfim um ignorante que sabe, até onde a consciência me permita saber, que sempre serei um ignorante de muitas coisas, mas que com dedicação e seriedade posso ir deixando de ser ignorante em alguns itens, mas que mais importante do que o saber em si mesmo, é tornar útil este saber, é saber para poder aplicar, é conhecer para agir, é fazer de toda e qualquer sabedoria um gatilho, um degrau para algo digno, útil e socialmente bom para toda a natureza e toda a sociedade.