Seres pensantes ou apenas seres egoístas e (in)sociais
Se somos, todos os seres humanos, seres pensantes, para que o ambiente social e o sentido de humanidade estejam tão sem valor, no mínimo devemos pensar que somos o máximo, e no máximo devemos pensar que somos deuses feitos homem, ou que deus está no controle e sabe o que está fazendo. Nada mais fácil para que lavemos as mãos e retiremos de nossos ombros quaisquer máculas ou sobrepesos por alguma responsabilidade pelo que aqui está, pelo que o social, ou melhor, o (in)social, é. Também é fácil culpar os políticos, o estado, os empresários, eles tem sim grande parcela de culpa, mas no fundo as responsabilidades são de todos nós, uns pelo que fazem para que seus interesses pessoais tenham valor de verdade, outros pelo que se omitem, outros mais pela cegueira de bons olhos como se portam frente a desumanidade crescente. A vida em si perdeu seu valor, parece que cada vez mais o que conta são as posses, os prazeres, o imediatismo, a satisfação pessoal de seus desejos e interesses, e desta forma o viver social se perdeu também. Não sou ingênuo, e sei que exatamente como existem empresários maus, políticos maus, pessoas comuns de índole má, existem também pobres e miseráveis de índole má, e também alguns menores que podem ter esta mesma índole (mas que não é o padrão, e que são, estas crianças e jovens condicionados e levados de roldão, muitas vezes, pela situação social que vivem), e o que eu espero é exatamente o mesmo tratamento policial, e de justiça a todos eles, diga-se um tratamento digno e humano, e não um tipo de tratamento para os pobres e miseráveis, e outro tipo de tratamento para os políticos, os empresários, a classe média alta e os ricos. O nosso egoísmo cresceu tanto, que perdida a sensibilidade humana ao longo do tempo, nos cegamos para as causas de muitos jovens estarem sendo perdidos para o crime, ou estarem cada vez mais distantes do respeito à vida, aliás o que não é apenas uma condição da juventude mais pobre, hoje ricos e pobres estão se distanciando naturalmente do respeito e da empatia humanas. No fundo, nós mesmos estamos aterrorizados com causas que também são culpa nossa, mas preferimos não pensar nisto, e passamos a defender o máximo de prisão, e se possível de menores que de alguma forma, independente dos motivos que os levam a terem uma visão da vida como têm, passam a ser risco para nossa vida e nossas posses. Não paramos para pensar que um número imenso de crianças e jovens, crescem em um ambiente onde o estado apenas existe como mais um repressor, onde estas crianças olham para a sociedade e para o asfalto como um mundo de ilusão, e no qual muito poucas delas poderão tem alguma entrada, que a falácia das oportunidades iguais acabam por excluí-las sempre e cada vez mais. Crianças e jovens que olham para o lado e veem que existe um modo fácil de conseguir “serem” algo, que é o lado errado da humanidade. Crianças e jovens que veem as portas de um emprego digno fechadas para elas, sobrando apenas os subempregos, aqueles em que a classe média, e alta, não possuem nenhum interesse, e que percebem no crime e no tráfico uma porta para um “trabalho”. Ao invés de focarmos nossas energias forçando alguma transformação desta realidade, acabamos por inúmeras razões, achando certo que se eliminem os riscos, ao invés de transformar as causas que geram estes riscos. Não nos interessa se as cadeias, ou as penitenciarias, acabam por serem mais desumanas ainda com eles, se acabam por aprofundarem o sentido de raiva para com a sociedade, se estão superlotadas sem o mínimo de condições humanas para alguma recuperação, isto não nos interessa, isto é invisível aos nossos olhos, o importante é mantê-los longe de nós, presos, afastados, se possível para sempre (porque correr o risco de alguma recuperação imperfeita?), pois assim nos sentimos mais seguros, mas nos esquecemos que prendemos um, mas a origem da geração de pessoas não ajustadas à sociedade continua a todo vapor, a realidade social continua desumana, e talvez até crescendo em desumanidade, e assim novas crianças e jovens são aliciadas para o “lado errado da força”, para o crime e para o tráfico, e a bola de neve da perda do sentido de respeito à vida e da valorização do humano continua se perdendo continuamente.