Infancia dos mortos vivos
INFANCIA DOS MORTOS VIVOS:
Sobe o morro o camburão,
Na viela estreita o menino negro olha por entre fresta os homens fortes de armas na mão e olhares de sangue a correr atrás do negro magro que foge desesperadamente entre tiros a espocar em suas costas nuas,
Cotidiano cruel e duro do viver no alto, lá, perto onde passa as nuvens,
No horizonte o azul do mar, enleva o sonho,
Abaixo no asfalto quente, cai o senhor grisalho na poça vermelha que o sangue de um justo ali deixou,
Assim a dor se espalha no silencio das gargantas fechadas sem forças para clamar por paz,
No noticiário a vida e a morte têm valores distintos,
Hoje a mão armada é negra e pobre, ainda imberbe,
Ontem a vitima também negra e imberbe caia no morro dos horrores que a vida não mostra,
Todos vitimas, da inconsciência e omissão encoberta,
Dois pesos duas medidas,
Maioridade, Menoridade, discussão vazia,
Enquanto os sons das matracas explodem em guerras sem fim,
A insensibilidade de uma sociedade confusa discute sobre o sexo dos anjos,
E nada faz para parar a violência que grassa qual erva daninha em todas as latitudes,
Pobres de nós mortais
Meã culpa Meã culpa Meã culpa,
Baterei no peito três vezes, trezentas vezes, três mil vezes,
Sim,
Faço parte da humanidade,
Que olha sem ver, que escuta sem entender,
Minhas parcelas de culpas levarei comigo,
Mas nunca deixarei de gritar minha indignação,
Contra toda violência,
Violência não tem cor, não tem sexo, não tem status social,
Violência é violência,
Só extirpando-a do nosso pensamento,
Do nosso viver, é que alcançaremos a verdadeira PAZ.
A todos,
Negros, Brancos, Pobres, Ricos, Brasileiros, Extrangeiros,homens e mulheres de todas as orientações sexuais, Crianças, Adultos, Idosos e também aos nossos amigos irracionais,
Que caíram pela mão dos violentos, minha solidariedade ,
Que meu desabafo atinja corações e mentes daqueles que creem no Amor e na Paz.
Valmirolino.