REMINISCÊNCIAS DE OUTRORA
Que tempo belíssimo era o meu tempo de criança. Sim, do meu tempo de criança. Afinal o tempo era meu, gastava-o como queria, sentia-me dono do mundo, dono do meu tempo.
Recordo-me das festas de São João. Eu tão inocente, espiava as quadrilhas: meninas e meninos enfeitados, dançando para lá e para cá, e eu a espiar. Estava doido para dançar, mas a minha pequeníssima idade não permitia fazer aquilo que os adultos faziam. Que pena! Pois é queria fazer aquilo que eles faziam, queria ser adulto, mas a minha inocência era tão ingente que não percebia o quanto dá trabalho ser adulto. São tantas responsabilidades, tantas coisas que se preocupam, mas esquecem do essencial: de ser criança. Ah, que tempo bom! Que bom é ser criança; sair deste mundo dos adultos e voltar ao meu tempo, o meu tempo.
Quando criança queria estar com todos, brincar com meus amigos, fazer aquilo que crianças sabem fazer, e fazem bem. Um das diversões que mais gostava era de polícia e ladrão. Corria, corria, corria atrás dos ladrões com cabide de roupas. Éramos criativos. Éramos unidos. Precisamos uns dos outros para vencer. Nós sabíamos, mesmo na inocência da idade, o que era essencial para a vida, mesmo nas brincadeiras na rua, praticávamos o amor mutuo. Mas é claro que tinha aquelas divergências, brigas, discussões, mas no fim de tudo, estava tudo bem; parecia que nada tinha acontecido.
Se eu pudesse resumir as crianças da minha infância, eu não saberia. Eu acho que perdi aquele jeito de ser criança. Não me preocupo mais com o essencial, mas com aquilo que é externo, aparente, bonito. Quero ser criança novamente.