Sem passado
Sem passado
Ela queria tanto que seu passado fosse diferente...sem tantas lacunas em branco, mas com preenchimentos sutis feito canções de ninar. Cores mais vibrantes nas noites de lua cheia, com as poucas companhias multiplicadas por milhares, com mais romances, ou breves, mas que fossem mais substanciais e significativos. Essa mulher queria tanto ter tido mais conversas a meia luz, ter tomado mais taças de vinho do bom, ter ido a Barcelona, Marrocos e bastava ter atravessado a fronteira! A sua fronteira...
Ela queria muito ter olhado para seus velhos livros e pensado; "Esta ainda sou eu."
Quisera não ter atravessado a mesma rua durante tantos anos, e não ter beijado o mesmo homem sob o jugo de unidos até que a morte os separe. Ela queria ter ido ao cinema sozinha, após uma xícara de café no shopping, ter comprado o vestido mais caro pra uma noite de verão, ter meditado ao invés de ouvir sermões.
Essa é uma mulher sem passado. Pois no seu hoje, ela é feita apenas de sonhos do que quisera ter vivido um dia.
Mas no presente ela é exatamente o que é, pelo passado que teve.
Seus olhos, as vezes miúdos e tristes. Calados e indesejados, se faziam olhos quando mergulhada no papel ela descrevia um mundo a parte...
Nós somos o que traçamos nas nuances das experiências que passamos, sendo ou não escolhas próprias, foram as que vivemos, e não há retorno, mas um desejo de ainda ser o que se pode. E ela pode! Porque ainda vive, sonha, tem inteligência, e profundas palavras saltitando em sua alma.
Toda mulher pode ser uma música, um poema, um passeio, um verso, uma sonata, um prazer pra se ter ao lado...
E aquela mulher era mãe, amiga, esposa, irmã, e filha.
Mas era muito pouco ela, só ela...
Mônica Ribeiro
21/05/15