Agrega valor comercial
Entendo hoje o uso do qual faço dessa ferramenta textual online. Desabafar minha ânsia. Ao menos, hoje, sim.
Ânsia esta que vêm martirizando e ocupando meu pensamento desde o momento em que ouvi a frase "agrega valor comercial".
Oras, me poupe. Não fosse esta, vinda de um "arquiteto", ocasionalmente, abafaria. No entanto, qual mesmo a intitulação para um arquiteto?
Os maiores salientam tanto a vida.
Contudo.. Exigem-nos a compreensão da fundamental arte que se dispõe um arquiteto em lapidar e estudar os gostos de um cliente afim de permitir a este a realização de um sonho. Ok, até aí tudo bem. Então vêm um professor - não menos importante ou bom no que faz por isso, mas - me dizer que acrescer um móvel agregaria valor comercial à minha arquitetura? Foi isso mesmo? Pude descarrilhar perturbadoras faixas de efêmera visão enquanto olhava-o atentamente tentando me convencer de que o fundamento é agregar valor comercial?
Embora dispor um móvel a mais ou de um jeito diferente venha à agregar valor comercial seja, eficientemente, verdade; não é esse o objetivo da arquitetura. Ou é? Entendi errado até então?
Ok. Conformo-me ao mesmo tempo em que emaranho-me em pensamentos sobre a real função da arquitetura na vida em sociedade, ou pessoal. Acresce ela algo realmente? Senão material? O bonito é fundamental, honroso, diagnosticadamente confortável aos olhos de quem vê. Mas e quem enxerga muito mais que vê, repara muito mais que sente, entende assim também? Indubitavelmente permite-nos consagradas garantias de retorno financeiro uma arquitetura bem feita, ou daquelas meia bocas também encontradas por aí, tal e qual becos diagonais. Talvez seja minha essência social, muito mais que capital, ou inestimável necessidade em dizer que não sei a quem estou enganando infringindo-me de introduções e esboços capitalistas. Talvez esteja experimentando da arte crua para poder criticá-la. Talvez eu vá usufrui-la realmente. Talvez esteja lapidando-me afim de garantir um bom argumento quando disposta frente a uma sociedade já irremediavelmente alienada, sentir a necessidade de, como agora, pensar. Transbordar.
Sobre o projeto do qual fiz, e recebi tal comentário: não aceitei opinião. Se há a necessidade de impor a vontade de alguém em uma obra, nenhum valor comercial deveria ser considerado em primeiro plano, senão por vontade do próprio adquirente.
Essa percepção abre espaço a mais uma linha afio de pensamento: a essência humana.
Observando a necessidade de agregar valor comercial a algo que, naturalmente, seria diferente e, com tal e claro objetivo comercial, distinguimos a invariante realidade da mecanização humana.
Arquitetura muito mais que arte é filosofia, sociologia. É a arte de pensar, também, e tanto quanto. E ainda assim há quem queira agregar valor comercial a tal? Estamos perdendo a inata e intrínseca virtude humana, a habilidade de pensar por si e ingenuamente pelos outros sem margens para o eixo capitalista.
Se eu me permitir agregar valor comercial a minha casa, deixarei de tê-la como gostaria, para como: qualquer um gostaria. Tornarei a arquitetura uma ferramenta de condução capitalista. Uma portentosa ferramenta, aliás, de massificação artística. Mecanizaria tudo muito rapidamente. Eximiria a essência da peculiar e indissolúvel magnitude da excentricidade, com apenas uma tv a mais no meu projeto.
Mas, como é bom acreditar que, não, não vou colaborar pra isso. E, aproveito, doravante, aliás, para poupar minha nanquim. Não gostaria de ter de destacar mais 20 dinheiros para uma superficial caneta escura desperdiçada em um projeto de superficial desperdício de arte.
E, ainda, calei o conflito ao olvidar momentaneamente o comentário. Não pelo temor da nota baixa. Notas não me representam. Nem pelo temor da rejeição do professor durante toda minha vida acadêmia. Sim, porque como eu, ele também têm direito de errar.
Lamento a possível redundância, soa como desabafo.