Meu problema
Eu tinha um probleminha, do tamanho de um caroço de azeitona, mal me incomodava. Nem queria perder meu precioso tempo cuidando daquele pequeno problema. Acontece que o problema não estava mais do tamanho de um caroço de azeitona, agora ele tinha o tamanho de uma azeitona inteira, mas convenhamos, uma azeitona é ainda muito pequena. Me preocupei com isso? Mas é claro que não! Deixei o tempo seguir, e esse probleminha agora encorpou-se e tinha o tamanho de um pote de azeitonas. Eu vi que o problema estava aumentando, mas pensei: - Sou capaz de administrar esse problema numa boa! Não vou mentir, administrar uma ova! Tinha problemas maiores e deixei aquele pote de azeitonas de lado. Mas o tempo, vocês conhecem bem, ele passa e traz sempre boas novas, às vezes nem tão boas assim. O pote de azeitonas se transformou numa Oliveira de 5 metros! Agora o problema estava maior do que eu! Comecei a levá-lo com mais seriedade. Mas quando vi que eu não conseguia mais domar aquele problema, deixei a Oliveira de lado e toquei minha vida, pelo menos tentei. Chegou um marceneiro, enxerido, cortou a Oliveira e fez um belíssimo piano. O belíssimo foi uma baita ironia, meu problema agora era um piano. Por onde eu andava, carregava o piano em minhas costas. Que problemão, amigo. Só de pensar que era apenas um caroço de azeitona, agora eram quilos por cima de mim. Quando dormia, ele estava lá, quando acordava, opa, lá estava o piano. Não tinha como esquecer aquele problema. A dor de cabeça (dor nas costas) foi piorando. Tinha duas opções. A primeira era ver o piano crescer e virar toda uma orquestra em minhas costas, a segunda era tomar vergonha na cara e resolver esse problemão, mesmo que aos poucos. A segunda opção me pareceu menos dolorosa. Comecei a batalhar, dia a dia, para eliminar aquele piano. Sei lá qual o meu problema, se fosse familiar, que eu resolvesse com diálogo. Se fosse com dívidas, que eu cortasse gastos supérfluos e reduzisse os essenciais. Se fosse com meu corpo, que começasse a me alimentar melhor e praticar atividades físicas. Se fosse com um amor, que me viesse a coragem para declarar um "eu te amo" ou o poder para esquecer pessoas que não me queriam mais. Se fosse com bebidas, que me viesse a determinação de parar de beber e me cobrar para não desistir dessa luta. Enfim, o meu problema foi sendo aniquilado aos poucos. E aos poucos o Piano virou uma bela Oliveira. Com o tempo, a Oliveira virou um pote de azeitonas. Continuei a batalhar, e o pote de azeitonas se transformou em uma azeitona. Não desisti, e sim persisti, quem diria, estava diante de um caroço de azeitona novamente. Agora me surgia um momento crucial: Deixo o caroço de azeitonas jogado no canto da sala? É apenas um caroço de azeitonas. Ora, eu tinha não mais um piano em minhas costas, mas um aprendizado, e esse aprendizado me ensinou que destruir caroços de azeitonas é a melhor forma de não carregar pianos pesadíssimos. É claro, destruí.