Quem questionaria a enorme utilidade de um carro?
 
Considerando o transporte público tão ruim, a praticidade de possuir um veículo permitindo os deslocamentos, ganhando tempo, desfrutando as vantagens ignoradas pelos “sem carro”, parece necessário ter um carro.
O raciocínio é perfeito, porém o mundo repleto de carros ficou chato.
Bem mais chato!
 
Somando minhas dezoito primaveras, não corri atrás da habilitação.
Muitos jovens amigos, crescendo ao meu lado, à medida que o tempo avançou, compraram seus carros.
Se eles compraram, tiraram a habilitação agora ou na fase juvenil.
 
Claro que ainda posso tirar minha habilitação, mas falta paciência.
Em 2004 assisti às aulas teóricas, em 2005 fiz a prova e passei.
Depois treinei algumas aulas práticas, largando no meio do caminho.
Não estava sereno, concentrado, a mente confusa e inquieta desistiu.
 
* Constatando o ir e vir, as calçadas ocupadas pelos carros de donos que não possuem garagem, as rampas construídas arbitrariamente, quase não posso caminhar.
 
Carros vão, vêm, poluem, o estresse não diminui, jamais cessa.
A pressa e os congestionamentos ganharam fama.
Sumiu aquele papo legal o qual, indo ao trabalho ou a qualquer lugar, costumava acontecer. Uma boa parte das pessoas sem carro passou a ter carro.
Conheço uma moça que mudou bastante comigo. Antes parecia que ela queria namorar, hoje ela mal me cumprimenta.
 
Admito que os carros facilitam pra caramba, ajudam a deslocar, trazem uma sensação supergostosa, todavia, quando eles não existiam, ou seja, quando sobrava espaço nas ruas e calçadas porque poucos cidadãos possuíam um carro, o mundo era bem mais divertido.
Encontrando diversos amigos andando, ótimos papos fluíam.
 
Hoje todos saem atrasados, esquecem de buzinar vendo alguém a pé, jamais impedem os demorados engarrafamentos, temem os assaltos, pisam fundo, batem, causam acidentes, morrem.
Certamente não são felizes.
 
* Contestarão, sorrirão, dirão que são felizes demais guiando um carro.
Não pretendo discordar.
 
Afinal de contas eu sou um sem carro, um infeliz, um tremendo vacilão, talvez um otário, contudo eu preferia o mundo dos sem carro.
 
Um abraço! 
Ilmar
Enviado por Ilmar em 16/05/2015
Reeditado em 17/05/2015
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