Vida?

Vida, o que tu me destes então, de tão bom, se não essa eterna vontade de deixares de ser?! Será isto bom? Será isto mau? Já não sei mais dizer o que é um e o que é outro; já não sei mais nada! Terei eu esquecido tudo o que aprendi nestes últimos dezessete anos? Será Eu algo que acabou de nascer num mundo onde nada parece fazer mais sentido? Ora! Talvez! Mas tampouco penso em deixar estas perguntas respondidas, pois não sei nem ao menos de onde elas vieram. As aspirações em mim trouxeram-as e não sei onde deixá-las, não sei onde fixá-las. Guarda-las-ei portanto? Não! Finda a sua vida também! Agora, e somente agora, me valera de atenção. E que morte mais doida é esse eterno agora. Pois não compreendes? Se sou agora e não ontem, também o ontem não existe. Só agora. O que são mãe e pai, então? Será eles os dois maiores enganadores? Fizeram-me crer neles por todo esse tempo? A família já não faz mais sentido! Porque como posso ter família, se esta pressupõe o ontem, o algo que me gerou e me deu sustento, base e estrutura? E em vão as perguntas pululam para fora como pipoca a estourar! Porém, é preciso a panela, o óleo, o fogo e o grão de milho. Mas não sei quais são as que produzem perguntas! Talvez elas também sejam produto de variáveis infinitas, distorções grandiosas do mundo, determinadas, mundanas, incontáveis e inconstantes, sim, inconstantes! Talvez enfermas? As perguntas são inconstantes porque nascem das inconstâncias da vida! O céu está mais claro! O céu está cada vez mais claro! Ora, se as perguntas são inconstantes, também as suas respostas o são. A questão da verdade, o intransitivo, o ponto fixo, o em si, eles todos já não parecem equivaler a nada – que ironia arcaica e religiosa. O que são, então, todas essas entidades fixas e não maleáveis, portanto, se não figuras distorcidas da vontade do ser de não querer que as respostas sejam sempre e para sempre, inconstantes? Tudo parece desmoronar como a uma avalanche grandiosa! Como a um tormento doentio que nos empurrou, durante séculos, a acreditar num único papel que a vida tem para nós, mesmo que ele não exista e não tenha existido nunca! E como essa falta de o-que-fazer nos causa repulsa! Pois bem, amigos, é hora de vocês saberem! Há uma coisa a se fazer mesmo não existindo nenhum fundamente para ela existir: viver e continuar vivendo, cada dia mais, cada minuto e segundo por mais minutos e segundos. A meta está dada, falta aos compradores somente o seu ocupar.

Leonardo Nascimento
Enviado por Leonardo Nascimento em 07/05/2015
Reeditado em 07/05/2015
Código do texto: T5233344
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