O VICE-PRESIDENTE PRIMEIRO-MINISTRO

O VICE-PRESIDENTE PRIMEIRO-MINISTRO

O vice-presidente Michel Temer, do PMDB, conseguiu o que mais queria: agora é ele que governa o Brasil. A Dilma virou uma figura decorativa; a nossa presidente é como a rainha da Inglaterra, virou uma chefe de Estado, mas o chefe de governo é o vice-presidente Temer, que vai negociar com o Congresso também comandado pelo PMDB, com Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados e Renan Calheiros na presidência do Senado. Esse é o governo do PMDB. Dilma e o PT ganharam as eleições de 2014 só para entregar o governo de bandeja para o maior partido da direita brasileira: o PMDB. O primeiro na sucessão de Dilma no caso de um impeachment é Temer, seguido de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, ambos do PMDB, e Calheiros é o presidente do Congresso Nacional. O PMDB hoje vota o que quiser e derruba o veto que quiser de Dilma e só não toparam um impeachment porque pode respingar neles também, pois já estão há anos no governo Lula-Dilma. Além do mais,estão numa posição muito confortável, governando na prática enquanto Dilma apanha com críticas na mídia e nas ruas. O PT parece ter percebido isso e tenta se diferenciar do seu próprio governo, sendo contra as terceirizações no Congresso e contra o ajuste fiscal nas ruas através da CUT. No caso do ajuste fiscal que dificulta o acesso ao seguro desemprego é mais difícil porque a própria Dilma tem feito a defesa pública dessa medida, atendendo às exigências do mercado, medida essa que parece não encontrar oposição do PSDB, que também representa os interesses do mercado. Temer é o nosso primeiro-ministro no parlamentarismo informal imposto pelo PMDB junto com setores da oposição de direita como o PSDB. Mas essa é a máxima concessão que o PMDB está disposto a fazer aos tucanos. Não vai apoiar as manifestações pró-impeachment para entregar o poder a Aécio Neves. O PMDB dessa vez quer ser o protagonista na política brasileira e é possível que lance o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, à presidência da República, que sairá bem avaliado ao ser o prefeito das Olimpíadas de 2016 e apoiado pelo grande empresariado pelo projetos que implementou no Rio e que geraram lucros para as empreiteiras e empresas de ônibus, além de contar com a simpatia do imperialismo, tendo feito empréstimo direto com o Banco Mundial para a cidade do Rio de Janeiro (empréstimo no valor de 1 bilhão de reais, o maior empréstimo feito pelo Banco Mundial a um município em todo o mundo). Os seus prováveis adversários em 2018 serão Lula pelo PT (único candidato competitivo do Partido dos Trabalhadores hoje, masque já sofre um desgaste com a crise do governo Dilma, sua apadrinhada política, e que sofrerá forte oposição da direita, vendo nele - de forma paranoica, claro - um Vargas ou um Chavez), Aécio (que quase venceu as eleições, mas que perdeu justamente em Minas Gerais, estado que governou, e tendo sua maior vitória em São Paulo, que votou mais no PSDB do que nele, pois o estado elegeu as três principais figuras públicas tucanas, Alckmin reeleito governador no primeiro turno, Serra eleito senador e Aécio derrotando Dilma com um número muito expressivo de votos), Bolsonaro (que representará a extrema-direita nas eleições, aglutinando os fascistas, os fundamentalistas religiosos e os militares e policiais tem uma visão corporativista) e Luciana Gerno, do PSOL (candidatura que representará a extrema-esquerda e que tende, assim como se deu em 2006, a canalizar o descontentamento com a situação política e social atual pelo campo da oposição de esquerda, sobrando um espaço político diminuto para outras candidaturas de oposição de esquerda, caso não conformem uma Frente de Esquerda como se deu em torno da figura de Heloísa Helena em 2006). Mas até que 2018 não chegue e se tivermos a sorte de não vivermos no Brasil um golpe parlamentar (com o nome de impeachment) como ocorreu recentemente no Paraguai ou um golpe militar (com o nome de intervenção militar) como ocorreu nas décadas de 60 e 70 na América Latina viveremos sob o governo do primeiro-ministro Michel Temer e com o PT no poder sem nenhuma perspectiva, abandonando até mesmo a tese do governo em disputa defendida no primeiro governo Lula, além de um cenário de muitas mobilizações e greves e de aprofundamento da crise social com o aumento da criminalidade e da repressão policial e militar para combater essa criminalidade, ameaçando gravemente o modo de vida da maioria dos brasileiros, o seu bem-estar e o seu direito à liberdade e à felicidade, estando no horizonte a ruptura do tecido social da sociedade brasileira; mesmo estando muito distantes de uma situação social como a do Haiti ou da Síria, situações intermediárias como as que se vê em outras partes do mundo como México e Egito não são improváveis se continuarmos no curso atual de nossa política e de relações sociais orientadas pela visão de mundo neoliberal baseada no individualismo e no hedonismo e no consumismo e que se aproxima da barbárie fascista e de seu sadismo, assim como as alternativas de restabelecimento da ordem social por meio da força como no passado, que, dessa vez, mergulharia o Brasil numa guerra civil, como tem ocorrido hoje em várias partes do mundo. Não há solução pacífica que não passe pela ampliação da democracia, com democracia participativa de verdade e não conselhos de cartas marcadas, e incentivo aos mecanismos de democracia direta previstos na nossa Constituição, como o referendo, o plebiscito e os projetos de iniciativa popular, as únicas maneiras de produzir consensos na situação atual da política nacional. O parlamentarismo informal de hoje só serve para a direita implementar medidas impopulares e ainda colocar na conta da esquerda governista. E o atual governo de coalizão, o pacto social conservador promovido pelo PT já se esgotou. Dilma, que viu o comando do governo escapar por entre seus dedos, sabe muito bem disso.