Questões cristológicas atuais

Você deve dar sua opinião sobre as questões abaixo:

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Questões:

1. A relação entre cristologia e história coloca a cristologia diante de um grande desafio: ou se dialoga e se faz cristologia a partir da história ou a cristologia corre o risco de ser irrelevante para o homem e a mulher da América - Latina com suas dúvidas, suas crises, seus sonhos e esperanças.

Resposta: O pressuposto acima tem sua relevância, mas possui também sua limitação. Evidente que o contexto histórico e localizado do lugar da elaboração discursiva da cristologia precisa ser levado em conta. Nesse caso, a Cristologia da América Latina necessita atinar-se para os problemas que marcam negativamente a vida do povo do Continente. Contudo, não podemos pensar que o Contexto da América Latina seja o pressuposto determinante que conduz o discurso cristológico. O Evento Cristo é universal e traz em si elementos pertinentes que falam por si mesmo ao universo antropológico do homem de todos os tempos. Quando lemos os evangelhos percebemos que a mensagem é sempre nova e transformadora. Podemos, coerentemente, admitir um discurso cristológico a partir do contexto histórico localizado, acentuado aspectos que entendemos necessários, mas sem quebrar a objetividade do Evento Cristo que é a redenção universal, cuja mensagem de amor, solidariedade, perdão, acolhida do outro, predileção pelos que sofrem e pelos excluídos forma o contexto do anúncio do Reino escatológico anunciado por Jesus. A história tem sua limitação, portanto, não pode ser dogmatizada, muito menos o seu discurso, por trazer em si as marcas dos limites do ponto de vista de onde é vista. O Evento Cristo é um dado objetivo da fé cristã e está sujeito ao limite das proposições do discurso a seu respeito. Para resguardar a sua objetividade, a experiência eclesial determinou parâmetros da verdade cristológica para que o discurso sobre tais verdades não escamoteasse o mistério. O perigo de centralizar o discurso cristológico numa visão paradigmática única pode incorrer em perigos de reduzir o evento Cristo ao que se preconiza, podendo cair na ideologização e formatar o discurso apenas na esteira da ética social e da filosofia da história.

2. "Desde o início, os índios vencidos que aceitaram Cristo fizeram-no de forma específica. Não o assumiram sincreticamente, mas do Cristo trazido pelos vencedores assumiram precisamente aquilo que mais os assemelhava a ele: um Cristo aniquilado e vencido." (Sobrino, 1996, p. 26).

Resposta: Creio que Sobrino fala de um contexto seu, bem localizado. Tenho dificuldade para analisar esta consideração por não ter elementos concretos de pesquisa que pudesse comprovar adequadamente o que ele conclui. Mas vamos à algumas considerações de cunho pessoal. O que podemos notar, nos caminhos da nossa história latino-americana, é que a cultura indígena não absolveu o conteúdo religioso dos colonizadores. Isso se deve a vários motivos. Primeiro: a evangelização pressupõe um testemunho a partir do conteúdo anunciado e muitos colonizadores não tinham testemunho e muito menos haviam internalizado em suas práticas as virtudes do conteúdo da mensagem dos evangelhos. O cristianismo deles não ressoava de maneira positiva no universo dos povos ameríndios. Muitos indígenas passavam a temer os colonizadores e até fugiam deles ao saber, através da imagem do crucifixo, que os brancos tinham matado deus. Segundo: a cultura dos povos primitivos da América era muito arraigada e dispare daquela dos homens brancos. A riqueza dos mitos e a maneira de fazer suas leituras cosmogônicas não davam lugar ao mundo simbólico dos europeus. A cultura ameríndia não incluía os mecanismo de comércio e não conheciam o sistema monetário. Os vínculos familiares, o senso comunitário, a intimidade com o meio ambiente dificultou em muito a absorção de uma cultura tida como superiora. Talvez esse choque cultural monstro explique a causa da dizimação da quase totalidade desses povos que não absolveu o “modus vivendis” e o “modus culturalis” dos colonizadores. Terceiro: Evidentemente que os ameríndios não realizaram, no aspecto religioso, nenhum sincretismo com a religião do branco por ser o universo religioso deles bem adverso ao cristianismo. A religião do branco não tinha nada a lhes dizer. Isso facilitou a resistência a escravidão, incluindo aí o elemento cultural do trabalho indígena que não se assemelhava ao sistema de trabalho do branco. Nesse aspecto, o negro, por viver uma circunstância bem adversa, encontrou facilidade para a prática religiosa sincrética em virtude do universo imenso dos seus mitos religiosos e a facilidade de esconde-los por traz da roupagem dos santos católicos. Não sei se posso concordar com a segunda frase de Sobrino, pois acredito que os ameríndios não se identificaram se quer com o Cristo da derrota e da aniquilação. As práticas históricas de evangelização, coercitivas ou não, revelaram-se incapazes de cristianizar os ameríndios.

Adair José Guimarães
Enviado por Adair José Guimarães em 11/06/2007
Reeditado em 11/06/2007
Código do texto: T523042