Tons e perfumes de minha bagagem

São miragens.

Quando toco minha bagagem, desapareço.......desperta-me!

Torna-se poeira, penas soltas no voo dos pássaros.

Entendo porque nasci no signo do fogo.

Queimo, ardo na precisão.

Ao crepúsculo esmoreço.

Fico no imo, no profundo e perco morada nos espelhos que refletem a procura.

De dia, sob o Sol, permaneço na estrada e meus sentidos ficam na vertical, descortinando consciência, esculpindo locas, subterrâneos escuros que respeito nessa paisagem, nessa travessia.

Aproveito peso; dou polimento nos blocos e clarões das vastidões com ritmo explosivo, doce, lamentoso.

Há silêncio depois do orgasmo, cuidadoso, oriundo das molduras secretas, untadas devagar para significarem, sugerirem a construção do amor.

Todas as coisas, bagagens que carrego sem carregar, são comuns, dizem pouco aos passantes.

É preciso ato de esvaziar a mente, pisar sob musgos sem destruí-los, assumir lágrimas, desertos, escolhas.

Se trigais baloiçam ao vento, trazem sonhos e altares sem

precisarmos comer a obrigação.

Olho, escavo e sangro.

Trago palavras com radar e o sal do quase não tem expressão.

Isolo-me apagada, sempre interrompida pelo barulho dos motores que aqui passam apesar da oração.

Espero despida, perfume da dracena do quintalzinho....virá

quando Sol entrar! Seus cachos do tamanho de véu de noivas adentrarão pelas janelas e portas de palha da Oca! Iluminarão a noite!

Os tons e perfumes de minha bagagem, tem espaços, angústias, impossíveis de descrever. Não sinto medos. Consola-me a carícia da pétala, olhar singelo.

Não careço de rezas nem das sombras. Escrevo, acolho letras respingadas, rústicas, que marcam aos gritos e apontam o fecundo; cortam-me ao meio, rasgam-me ao avesso e lançam seu pólen incansável, ao chão duro, vivo, sem vaidades, só esperando para agasalhar a delicadeza.

Nada está fora do lugar. Suspiro!

Lembro-me do que mais gosto de comer: Quibebe de mandioca.

Agora estou vazia, cheia de poesia e prosa, cheia de letras debruçadas sobre meu corpo que está completo.

Quando minha lamparina apagar contarei da grande viagem com seus calos e cascos sob sol nascente, modesto em sua Grandeza!

Bebo néctares de toda Mãe-Gaia e trago lábios de mel e asas sem dores..... Estou sensível, cheinha de amor em todos os sentidos.

O peso de minha bagagem é leve e o perfume maravilhoso! Acreditem.

Arana do cerrado
Enviado por Arana do cerrado em 03/05/2015
Reeditado em 03/05/2015
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