Guerra fria
Amanheci-me tão noturna. Deixei que a escuridão da noite beijasse minha face. Contaminei a luz do dia com o vírus das sombras. Acordei vazia em vielas onde só se ouve o vento angustiante. Com os olhos semicerrados vi resquícios de claridade e isso me deixou mais calma. Senti uma brisa fria e mais leve ao descobrir a nudez de meu corpo jovem e exaurido. A cada segundo passado cores dançavam sobre a cama, envolta de mim tudo mantinha sua vida própria, seus tons azulados. Foi então que percebi minha alma aflita e solitária. Era a guerra fria entre o corpo que habitava na luz e a sombria estada de minha alma. De pé, agarrei-me à Palavra. Tomei um gole direto da fonte e aos poucos houve vida e luz onde não havia nada senão a noite.