Incompreensível
Na verdade, não sei porque fui esquecida na estação.
Como tantos outros, aguardava a saída.
Vagarosamente, veio a Maria-Fumaça.
Não parou. Preguiçosamente continuou
deixando rastros e aquele cheiro inconfundível de carvão em brasa.
Desenhos cinzentos formando figuras disformes
E eu ali.
Olhos marejados
bagagem para mais de mil dias,
incógnitas no lugar da compreensão.
Nem me foi oferecido um lenço,
não houve despedida
aliás, nem houve partida...
Creio que eu estava estacionada
numa estação errada,
aguardando um sorriso que não aconteceu...
Desobriguei-me então do excesso de bagagem.
Peguei o caminho de volta
apenas com as certezas que ainda sei
ontem era o outono
hoje é o inverno
amanhã o ciclo se completa
e o segredo não se corrompeu...