Em plena incapacidade

Em plena incapacidade de me conhecer por inteiro, me assusto com muito do pouco que posso me conhecer. Sou um desconhecido de mim mesmo. Talvez seja eu um refugo humano que não seja representante natural do que é ser este animal humano. Talvez me sobrem erros de cópia, erros de desenvolvimento e erros de percepção e de construção de minha identidade como ser humano. Talvez seja puro fruto de uma incompetência intelectual e instintiva, talvez seja até deficiente mental, mas sinceramente, salvo uma miopia absurda que me impeça de ler a realidade que me cerca e que compõe este mundo, da qual sou também causa e produto, o que percebo em mim, muito justifica a absurda e repugnante sociedade que em geral observo, não somente a minha volta, mas em toda a superfície terrestre.

A ferida exposta muito me incomoda, mas muito mais me incomoda a falácia de que não sou também culpado pelo que aqui está. Todos somos, direta ou indiretamente, culpados pelo que aqui está, mas sempre posso continuar a cobrir a face e anestesiar a ferida, culpando os outros e me eximindo de toda e qualquer culpa, pois em geral tudo fiz tentando ser bom pai, tentei ser bom filho, e respeito meus amigos, mas ser verdadeiramente um homem social é muito mais do que isto. Ou somos comprometidos com uma mudança real, ou somos no mínimo coniventes com o que aqui está
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Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 24/04/2015
Código do texto: T5219105
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