Inquietações

Tenho dormido constantemente com a necessidade de escrever. São inúmeros os motivos que me inquietam. Vou tentar começar por alguma parte. A parte que grita mais alto dentro de mim.

Mais uma vez constato que sou estranhamente diferente. Rubem Alves cita em seus textos sobre levar os olhos para passear. Meus olhos vieram pra esse mundo a passeio. Parece algo lindo e encantador. Seria se eu não saísse de mim ao ver árvores com galhos secos, folhas mudando seus tons de verde de acordo com o toque dos raios solares, as amarelinhas no chão da escola remetem-me ao céu e ao inferno, o laranja do céu as seis da manhã mesclado em nuvens disformes fazendo-me enquadrar no mínimo quatro tons. As vezes não sei como chego ao trabalho porque no caminho não estou no trânsito, voo pelo céu afora e me perco no infinito. Já precisei balançar a cabeça dizendo que deveria voltar e dirigir. Apenas dirigir, pois pode ser perigoso ficar lá em cima. E realmente é...

Então, me questionei:

_ Ana vale a pena tudo isso?

A resposta veio a mim rapidamente.

_Sim, vale! ´

É incontrolável...Está decidido.... Meus olhos estão livres para verem o mundo interagindo com ele de todas as formas possíveis.

Várias pessoas tentam tirar os pés dos chão. As vezes tento voltar os meus para eles. Parece que estou sendo, de alguma forma, ingrata. As vezes sinto-me especial e em outras tenho medo de que percebam meus devaneios. Meus olhos estão sempre a procura de encantos soltos e perdidos entre objetos, a natureza e o ser humano. E ele os acha. Nos mínimos gestos. Numa voz que fala, numa mão que toca meu ombro, numa delicadeza ao próximo, em quem sai do seu percurso permitindo que o outro brilhe, numa voz que cala, um olhar que abraça, o sorriso que aquece...Todo esse repertório passa aceleradamente dia após dia por todos os meus sentidos.

Dessa maneira, sinto-me feliz. Como se o mundo todo coubesse dentro do meu peito. Nesse momento vou além do céu laranja das seis da manhã. Num lugar onde pareço um pequeno ponto na imensidão. Nesse instante encontro paz. Na altitude do voo e na profundidade do mergulho.

Ana Liszt
Enviado por Ana Liszt em 22/04/2015
Reeditado em 22/04/2015
Código do texto: T5216754
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