Ruínas

Eu não imaginaria que fumaria tantos cigarros; nem que beberia uísque; nem que perderia o sono absorto por um milhão de pensamentos; nem que me descreveria em poesias; nem que caminharia esmo pelas ruas de qualquer lugar. Nada disso pensei que faria. Eu não sei exatamente o que venho procurando, talvez algum rosto familiar? Não sei dizer. Não sei de tantas coisas, e de algumas outras, me esqueci. Não sei se acredito no destino ou se acredito no acaso. Até algumas lembranças tem escapado de minha memória, empreenderam fuga para algum distante lugar. No fim, certamente, sobrarão poucos e poucas coisas que realmente sejam significativas, pois todas as outras também se foram. Igualmente os anos se vão, deixando apenas a sutil sensação de que os melhores dias eu possa ter desperdiçado. Se pudéssemos ver o nosso caminho, antes de seguí-lo, qual seria a chance de seguirmos por ele? Já não importa tanto assim as respostas. Porque mesmo se eu as tivesse, nada mudaria por aqui. A casa continuaria vazia e os velhos hábitos ainda seriam praticados como um ritual cotidiano de cinismo próprio. Tenho vivido breves momentos de raso entretenimento, e longos períodos de profundo tédio. Cansado de tudo. Eu estou em queda livre num abismo sentimental e oco, do qual não me parece ter um fim. Espero me esborrachar no chão antes que eu também me acostume com esta interminável queda. É preferível implodir-me a ter que assistir um vagaroso desmoronamento. Sobre contos de fadas, tenho eu algo a dizer: os castelos terminam em ruínas.