A UM HOMEM DE OUTRO ESPAÇO



 
        Creio que odeias não apenas a mim, mas, às mulheres que te amam e a todas que te amaram, a todas que ousaram tal feito, o de terem te amado. Ah, homem de outro espaço, tu te julgas assim tão pouco digno que precisas passar a vida a punir as infelizes ao longo do tempo pelo crime de te amar e as que ainda, a despeito de tudo, te permanecem ao lado? 
         Há tantos, há tão demasiados anos te julgas meu credor, meu credor implacável, sem perceberes que teus atos te tornaram e te tornam meu devedor, a mim que não te sou credora implacável. Pelo contrário: tenho te perdoado desde sempre e te continuo perdoando, para que as dívidas mútuas sejam zeradas nesta vida. Se houver outras não quero que esta dantesca saga prossiga contigo, comigo, conosco, com todos os mais personagens desarvorados de nossas vidas. A nenhuma liberdade que tenho nesta vida não se estenda a nenhuma outra... que não se estenda...claro, desde que haja outras vidas que, se as não houver, nesta se encerram todas as vidas e (quase, oxalá) toda vida possível. 
          E o pior: não és tu o meu único algoz: Quando minha mãe fez 90 anos compreendi, fundo, o olhar do outro algoz. 
          Por que, algozes meus? Para que? Bem... Tenho mãe. Enquanto  tiver mãe urge que eu sobreviva ao vosso ódio, cujas razões efetivas busco compreender há séculos nesta vida. Depois... Não sei nada do depois, como não sei nada do hoje, como também não compreendo nada do ontem. 
          Quero muito que haja um Deus. Quero muito que haja. Não para pedir-Lhe vingança (Ora, Zuleika, vingança não se pede ao Deus) nem para pedir-Lhe justiça. Apenas para que eu tenha alguma esperança ainda para mim nesta vida, nesta ainda minha sobrevida.
           Que haja um Deus! Que haja!