Quebrando a rotina, alguns fatos, nos levam à refletirmos ainda mais sobre o nosso comportamento diante de nós mesmos e do nosso próximo, no cotidiano. Dizem que o "costume de casa, leva à praça", embora seja meio antigo, já dizia a minha avó, eu concordo. Já faz parte da minha rotina de trabalho, ficar observando sempre, sem me envolver se não for solicitada à participar dos assuntos discutidos entre eles, (visitantes). Porém por um instante, meio que alheia às pessoas ao meu redor, desliguei-me de tudo, com os meus pensamentos livres, suaves, misturados. O meu coração estava pulsando mais rápido com sintomas de felicidade.
É sempre assim quando fico só em meu mundo particular. Ou repenso na alegria, ou na tristeza, na realidade e na fantasia. Pensando no amor, fiquei. E no quanto eu me sentia satisfeita com a vida ultimamente. Ao mesmo tempo me organizando mentalmente para conseguir pegar as crianças (três netos) no dia seguinte bem cedo e fazer a farra prometida bem longe de tudo. Então, num dia mais ou menos calmo fico assim... Eu ali, estava trabalhando, quieta e silenciosa em meu canto, sentada à frente do computador, os sofás da sala de espera estavam todos ocupados, as conversas rolavam naturalmente, as pessoas bem tranquilas, o assunto discorria sobre política, novela, rede globo de televisão... Temas, temas em suas concepções; ' abusivos. Críticas e insatisfação... E tantos outros e outros assuntos polêmicos, enquanto aguardavam a próxima reunião daquela tarde às vésperas do feriado de amanhã, de 25 de março, a Data Magna do Ceará, emenda aprovada pela Assembléia Legislativa do nosso estado. Por ter sido o primeiro estado brasileiro à abolir os seus escravos... Só que não. (risos) Conversas bem desinteressantes faladas por pessoas leigas. Foi o que pensei. Eu me desliguei. Estava mesmo querendo o dia de folga para levar os meus três amores à praia. Queria correr com eles, brincar de fazer castelos de areia literalmente, sorrir com eles, tomar sorvete e abraçá-los de um jeito que só nós sabemos o quanto nos faz bem o nosso amor. Desligada do ambiente, eu estava, embora atenta aos movimentos rotineiros da minha função, lidar com o público durante tantos anos de trabalho, nos traz uma certa segurança e até um pouco de tristeza, aos destemperos emocionais, natural de quem chega à procura muitas vezes até mesmo somente de uma palavra amiga, de um sorriso ou de um 'não', bem dado, quando a demanda não tem meios para ser atendida e não podemos dar-lhes a solução. Doendo dizer o não. Ou, o desdém de alguns prepotentes, arrogantes com um (rei) ou presidente na barriga. O fato é que naquele instante... De repente ouvi as vozes se alterarem, fiquei apenas observando e nem de longe tentei impedir a discussão pois se tratava de choque de opiniões, ali estava um quadro eu diria que até meio engraçado se não tivessem descido a um nível tão vulgar, no calor da discussão entre as duas mulheres. Uma, dizia ser professora universitária e a outra, era uma adolescente com no máximo uns dezenove anos de idade, estudante, iniciando o curso de direito de uma universidade privada, (pelo que eu pude entender na briga), que terminou em coisa feia. Acho que últimamente os adolescentes estão cada vez mais antenados, exigentes, o que é fundamental para a atual sobrevivência competitiva. Porém a falta de educação, a falta de respeito com quem quer que seja, não justifica a vontade de querer ter razão e impor com tanta veemência o seu ponto de vista, a ponto de agredir o outro. Pior ainda, quando o outro (nesse caso) um educador de nível superior, desce do salto da inteligência emocional, e perde a sua postura. Faltou-lhe sabedoria, faltou respeito ao ambiente e às pessoas presentes, toda discussão foi em nome da liberdade sexual de cada um, que no final não deu pra eu entender quem defendia o que, porque as mesmas abandonaram o local e desceram brigando. Fiquei chocada, nem pensei em chamar o segurança. Foi tão rápido, tudo. Com os meus botões pensando: Libertação, liberdade de expressão, escravidão zero, preceitos e preconceitos. Percebi que aos meus cinquenta e sete anos de idade, ainda não deu pra ver tudo.
Liduina do Nascimento.