Ato Final

Eu tenho todas as frases prontas. Ensaiadas como em um filme de Hollywood. Programo as cenas que em minha doce e fantasiosa imaginação eu cumpriria. Mas sei que não. Nada acontece como planejamos. Nada. Os caminhos se desfazem com areia movediça sob os nossos pés. Engole-nos. O destino é uma equação complexa demais; cheia de muitas variáveis. Indecifrável. E eu que sempre busquei por alguma constante. Hoje passo a desdobrar as lembranças e lê-las com uma carta antiga que guardei ou, talvez, sem querer, eu as tenha esquecido no canto do armário (de propósito). Espremê-las, como se delas pudesse extrair algum detalhe especial. Algo que, por acaso, eu tenha esquecido ou não percebido. Absorto em meus triviais devaneios, fico a deduzir os resultados. Somando os erros pretéritos e as insatisfações hodiernas. Calculando para os vindouros dias que hão de vir, algum hipotético resultado feliz. O que fizeram de mim os poemas e os sonetos? Herança de insones poetas; incompletos da vida, mas repletos do que construíram dentro de si. Tornaram-me indiferente a realidade. E, por isso, empreendo fuga para o imaginário. O irreal. O qual construo ao meu bel-prazer. Um subterfúgio, uma escapatória do cárcere do plano real. Onde tudo parece desmoronar aos poucos sobre minhas expectativas. Será, acima dos entulhos sentimentais, um feixe de luz, uma saída? Ou apenas mais uma vaga esperança experimental. Daquelas que provamos como prato de entrada para um desgosto monumental. E mesmo assim, eu tenho tudo programado para o desfecho final. Para clímax de nós dois. Como se vida fosse uma peça teatral a qual eu, certamente, não seria o protagonista, ainda que fosse minha própria história, pois dela tenho sido um coadjuvante. Ou menos, um figurante, talvez. Mas decorei para o final, uma linda frase que finda a cena, antes que as cortinas se fechem sem aplausos, e que a luz se apague para sempre. E que eu permaneça ali, sozinho, na treva que emana de mim mesmo, eternizado pelos poemas que escrevi e pelo silêncio das palavras que nunca te direi, mas que pude, ainda assim, imaginar dizê-lo.