UM POUCO DE VERDADE



 
Gosta de mim um pouco. Não precisa ser muito; que seja pouco, mas, que seja de verdade. Estou debaixo dos escombros do que nunca foi amor, senão paixão, obsessão, possessão. Estou debaixo de tais escombros. Tudo o que hoje peço da vida é um pouco de verdade. Ovelha triste de si mesma, a que precisa ser a pastora da própria (???) vida, a  que só precisa de um pouco de verdade. Para respirar ainda... Para respirar...
Aos poucos a gente vai compreendendo  o tamanho de certas perdas, quando se sonhou, fundo, com a beleza e a verdade que não havia... que nunca houve... Quando se  imaginou que os afetos que nos dedicavam (?)   eram verdadeiros.
Sou uma ovelha triste diante de um mundo agora sem máscaras nenhumas: o meu mundo.  Desejo, hoje, muito pouco da vida.  Seja como for, quando partir deste Plano, não quero partir com a alma atolada nas mentiras em que acreditei desde sempre: A ilusão de que o meu destino importava para seres a quem doei a minha vida, seres de quem nunca esperei que me doassem suas vidas, mas de quem esperava  alguma solidariedade e presença na hora das agonias. Nada ou quase nada me veio, além da presença de algumas amigas, mulheres benfazejas a quem deverei gratidão pelo tempo que me reste de vida. 
Ah, só um pouco de verdade, para tirar algo do gosto de cinzas que me está, já há muito, na boca, na alma, nos dias dos dias. Só um pouquinho de verdade e não terá vindo totalmente em vão esta minha vida.