PÓ DA ESTRADA
Pelas longas estradas da vida,
Onde parte da vida passei,
Onde lágrimas da vida sofrida,
Ao longo da estrada chorei.
Hoje o asfalto encobriu todo o leito,
Da estrada onde outrora passei,
Fazendo o percurso com jeito,
Vê-se o quanto mudei.
Até o pó que foi meu companheiro,
Pelas caminhadas que fazia outrora,
Foi exterminado primeiro,
E eu, estou sendo agora.
O progresso que hoje impera,
Ao redor donde o asfalto passou,
Polui muito mais a atmosfera,
Do que o simples pó que o vento levou.
O progresso que traz melhorias,
Pra cidade e também para o povo,
Lhe acompanha, talvez por ironia,
Dando em tudo aspecto novo.
O povo sai do primitivismo,
Enfrenta um esquema talvez infernal,
Toma banho alto de civismo,
Contudo, retorna à fase animal.
O pobre ficando cada vez mais pobre,
Por não acompanhar os índices inflacionários,
O rico, ficando cada vez mais nobre,
Imperando junto com os milionários.
Ah ! Que saudades da estrada de chão,
Das matas que tinham em suas margens,
Onde eu andava de pé, no sertão,
Podia aspirar a saudável aragem,
Não tinha tanta poluição,
Embora minha vida fosse selvagem.