Materialismo

O materialista sério (aquele que pauta a leitura do mundo e do viver como essência material) não é, nem de longe e nem de perto, aquele que valoriza os bens materiais acima da humanidade imanente que lhe deveria ser princípio, meio e fim, e muito menos acima do natural. O materialista é somente aquele que percebe a realidade como um conjunto complexo em si mesma, onde tudo é imanente, onde tudo ou é matéria ou é energia, ou uma combinação variável delas, ou em último caso redutível a elas, ou originária delas. Matéria e energia, realidade e imanência, presente e existência, são marcas do materialismo, e nada tem a ver com a ideia distorcida, apodrecida e estigmatizada que foi criada ao longo do tempo por visões, estas sim distorcidas pela necessidade de, por mentiras, distorcer e macular a beleza e a pureza do verdadeiro materialismo. O materialismo jamais renegaria o humanismo, a solidariedade, o altruísmo, o amor, a dignidade humana, a humildade, a sensibilidade, a empatia, ou a cumplicidade social, muito pelo contrário, o materialismo nos levaria a mais amarmos a vida, o ser vivente, todo ele, e a natureza, simplesmente porque a natureza, a vida, e a realização do viver, são essencialmente materiais, são essencialmente naturais, e a natureza é a própria essência do materialismo, por ser ela matéria e energia. O materialismo, diferente do propagado pelos detratores irresponsáveis e sujos, nos levaria naturalmente a um compromisso total com a realidade natural, com a natureza, e com tudo que dela deriva, nos levaria assim a melhor cuidar do natural, a não estressar o uso, e nem a abusar da extração de nada desta mesma natureza.

Um materialista pode ser desumano? Sim, como pode um utilitarista, um idealista, um místico ou um religioso, o que importa delimitar é que um materialista não é o que valoriza os bens materiais acima de tudo, nunca foi, isto nunca foi algo que defina o materialismo ou o materialista em si. O materialismo valoriza e respeita o natural, a natureza, e tudo e qualquer coisa físico no universo, local ou distante. Sou materialista e amo a humanidade, por ser ela naturalmente natureza, por mais que o jogo sujo de palavras de inescrupulosos religiosos, ou interesseiros, possa tentar associar o materialismo a alguma desumanidade, a vaidade, a ganância, ou a alguma barbárie. Se existem materialistas não sérios, posso também lembrar quantos religiosos desumanos e indignos também existem, é fruto da fraqueza humana e não do materialismo em si. Não sei, sinceramente, se posso falar o mesmo das religiões que se acham acima do bem e do mal, que em seu fundamentalismo se colocam como detentoras de alguma verdade máxima e absoluta, se portam como proprietárias da ética e da moral, e que distorcem princípios filosóficos do viver, apenas por puro interesse político, ou por interesses de poder. Que o digam pedófilos, milionários inescrupulosos, fabricantes de armas e etc....

O materialismo renega, sim, o sobrenatural, o transcendente, mas jamais a beleza e a dignidade do viver. O materialista deve, por princípio, defender o ser social que nos habita, por ser ele emergente da complexidade natural de um cérebro físico, material e energético, deve defender uma sociedade justa e social, simplesmente porque uma sociedade é um conjunto de seres sociais, e deve defender a natureza, pois que dela tudo emana, gostemos ou não, estamos aqui porque antes existe a natureza, e não o inverso, que a natureza exista para nos servir.

Todo materialista é por definição um ser ateu, pois há de negar o teísmo, que por definição é transcendental e sobrenatural. Nem todo ateu é por definição um materialista, mas todo materialista é um ateu, por isso a repressão religiosa aos materialistas, e a degradação que tentam passar ao termo materialismo. Todo materialista deve renegar a pseudociência, ou o misticismo, dogmas e afins, sem jamais renegar os entes humanos que nisto acreditam... O materialista poderia até aceitar alguma vertente de algo como espiritual, desde que este algo espiritual fosse totalmente natural, imanente e redutível a algo existente físico, ou mesmo a algo que ainda viéssemos a descobrir, mas sempre imanente e natural, desde que possa haver total corroboração entre este algo espiritual e algo natural (o todo existente), e a natureza, e a algo físico, ou que este espiritual fosse totalmente redutível a energia ou a matéria, nunca podendo ser sobrenatural, supernatural ou transcendental. Sou materialista, e tornei-me ateu por tornar-me materialista, não o contrário. A natureza é linda simplesmente porque ela, a natureza, é tudo, nada há acima dela.
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 03/03/2015
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