Hoje
Eu costumo me sentir triste. Hoje eu não fiquei. Enquanto andava na rua depois do trabalho, debaixo do sol escaldante de Salvador, de calça, não me peguei no meu costumeiro remoer do passado e lamurias. E quando tive consciência disso, continuei na mesma situação. Pelo contrario, me sentia leve e eufórico, pensando no deguste de bolo com café que me esperava a poucos metros em uma lojinha bem simpática que tive o prazer de descobrir. Cantarolava "Leão do Norte" de nosso Lenine e batucava o ritmo de leve no livro que levava.
Mas qual foi o porquê disso? Bem, eu desisti de ser feliz.
Calma, eu sei que isso é contraditório, mas foi assim mesmo. Inclusive um colega meu disse que eu precisava de ajuda por isso. Antes, eu corria atrás de fazer coisas que achavam que iam me fazer bem como todos os outros. Festas, bebidas, pessoas novas, essas coisas que todos conhecemos bem. Eu simplesmente desisti de todas elas. Bem, a bebida eu posso dizer que ficou.
Vivemos numa época de que ser feliz é obrigatório. Mas há beleza na tristeza. Quando eu estava profundamente inserido nela, eu a abracei e ela me envolveu. Hoje, volto a procura-la, sendo que antes, fugi dela inconscientemente.
Parei. Voltei a ler, a tocar. Reconheci meus problemas, não tentei contorna-los com mentiras e falsas esperanças. Os olhei nos olhos, chamei pra briga e os resolvi. Fiz e faço o que eu estiver afim e (geralmente) sei o que quero e (geralmente, de novo) sei como fazer por onde pra obtê-lo. Não falo isso batendo no peito e esbravejando o meu modo de ser é o certo e que vocês estão errado, pasmem. Apenas digo isso, porque é verdade. Foi assim que aconteceu. Ser feliz, pra mim, não é ganhar muito dinheiro e blá blá blá. Na verdade eu nem sei dizer ainda.
Enquanto bebericava o meu café, pensei em que o ser humano é potencia. Somos o que queremos ser naquela hora ou daqui a um tempo, dentro de limites, claro. Ou não. Alguns limites somem.
Acho que o que foi importante também foi eu ter aberto minha mente. Lido coisas, ter visitados lugares. A experiencia é importante para a nossa formação como humanos que podem exceder o limite físico da existência e perpetuar nos ecos da humanidade. Penso nas pessoas que vivem o básico e eu acho ok, acho válido a pessoa viver no básico. Mas eu não me sinto assim.
A obsessão de ser feliz está nos levando a depressão. Eu não procurei ser feliz e ela me achou, a danada. Que isso possa fazer alguém refletir, no final.