Mudança
Já nou sou a mesma... Não sou a criança de olhar vivo, nem a adolescente sonhadora, que se apaixonava platonicamente, que dava voltas ao mundo em apenas uma noite e acreditava que tudo, mas tudo mesmo, era possível.
Crescer é inevitável e vamos nos adaptando a realidade que vivemos. Hoje já não imagino fadas e não penso que irei para a Terra do Nunca, viver apenas de aventuras. Até o chocolate já não tem o mesmo gosto. Não vejo estrelas com freqüência e o brilho, do olhar das pessoas, está cada vez mais turvo, como o mar numa noite sombria de tempestade.
O gosto de ser criança também já não parece o mesmo. Elas brincam muito menos tempo, e seus brinquedos são reais no início da adolescência, seus próprios filhos. Perdem muito mais do que percebem e alguns chorarão muito mais do que o próprio bebê.
Tudo passa pelos meus olhos e pensamentos como um turbilhão que não tenho controle. Onde deixei meus sonhos de criança, minhas fantasias de adolescente e meus desejos de mulher? Quando perdi o brilho dos meus olhos, que pareciam duas luas cheias numa noite quente de céu estrelado? Onde perdi meu "eu", que sempre procurou a felicidade? E os sonhos que achei que fossem importantes, mas hoje já não me resta força para persegui-los? Por que não consigo me encontrar? Por que simplesmente me perdi? Por que há tantas palavras, mas nenhuma para me responder, nenhuma que me faça compreender?
Quero voltar a sentir o gosto de viver... Quero que um dia pareça uma eternidade, uma hora pareça um ano, um minuto pareça um mês e um segundo pareça um dia, assim como sentia que era o meu dia quando era criança. Quero minha inocência de volta, poder confiar nas pessoas sem medo, sentir o gosto bom dos doces da minhã avó, brincar de casinha no quintal, quero não me preocupar com o amanhã e viver apenas para hoje. Quero apenas voltar a viver, como antes vivia, sem essa louca e absurda correria.