Esquizofrenia

De repente, no lugar do que era,

Havia outro, que já não era...

De repente, havia uma amarga ausência na presença.

E, do outro, que já não era,

Ficou uma saudade esperançosa...

Como a saudade de alguém de sumiu sem nenhuma explicação...

Ficou uma saudade que tem que ser sentida, mesmo na presença,

Pois que essa presença está inundada de ausência...

O outro, que se perdeu no meio deste,

Que é, e ao mesmo tempo não é,

Quase sempre tenta ressurgir... E isso é doloroso,

Pois que, todas as vezes que o novo, que é e não é, assinala sua presença,

Assinala sempre de forma escandalosa,

Porque seus medos e suas ansiedades são ainda maiores,

Pois se fizeram mais reais na sua mente...

O que foi, quando consegue ressurgir por alguns momentos,

Encontra a bagunça que o outro deixou,

E, na angústia de tentar consertar, reorganizar,

Logo é nocauteado pelo que é e não é, que volta...

Nunca tem tempo para reorganizar!

Do outro que foi, no meio da saudade do seu sorriso verdadeiro,

Tem a saudade das conversas,

Do tempo em que a gente conseguia se falar e sequenciar essa fala,

Sem que este, que é e não é, aparecesse para desconectar as conversas.

O novo, este que é e não é, amo também...

Uma relação de amor e ódio...

Amo a pequena parte que ainda é, daquele que foi...

E, às vezes, odeio esse, que agora é, e que não deveria ser...

E que está dentro da mente do outro que sempre será para mim...

Os médicos deram um nome esquisito para o que fez surgir o outro...

Uma palavra assim toda esquisita...

Esquizofrenia...

Para André.

Pelo sentimento especial de amor fraterno que nos une!

E por algumas lágrimas...