A nação paralisada pelo carnaval

Um exame de ressonância magnética feito na última sexta terá o laudo completado na quarta feira. O leite das padarias está vencido e azedando, o leiteiro deixará novo lote somente na sexta-feira. Semáforos em tilt com a chuva não serão consertados até a semana seguinte. Os carros que se trombem (cuidado, viu? Até no pronto-socorro está tudo no regime da meia-força. A cada ano que passa fico mais perto de dar o braço a torcer à célebre frase de De Gaulle, tão criticado pelos nossos nacionalistas débeis: "O Brasil não é um país sério". De fato, não é. Não consigo imaginar outro lugar em que a dimensão do implante de silicone de subcelebridades seja manchete de jornal, qualquer outra terra em que a população se deixe abater por um transe coletivo por uma semana, qualquer terra com pouca água, pouca luz e poucos recursos que vá para a avenida desperdiçar a água, a luz, os recursos, no verdadeiro desfile da arrogância, ignorância e desprezo pela vida. Manifestação cultural? Não. Grotesca manifestação da total falta de cultura.