EU QUERIA SER...
A noite já emborcou
A madrugada chegou
Faz tempo o galo cantou
Nem dormi, não me acordou
O sono que me faltou
Nem perto me farejou.
Andei deitado a dormir
Querendo eu sucumbir
No sono sem permitir
Os meus pensar a zunir
Me fazendo de zumbir
Levantei a refletir.
Foi então que eu pensei
Em muita coisa, nem sei
Mas, então não sosseguei
Enquanto não levantei
E para cá caminhei
A escrever eu passei.
Pensei eu em ser Adão
Na hora da decisão
De toma-la com a mão
Saboreando-a então
O fruto da criação
Ouvindo a voz do cão.
E perceber como é
Que a gente não mete fé
No aprendizado da Sé
Quando Deus o pôs em pé
Dizendo a ele e a mulher
A vida que Deus lhe der.
E sentir a sensação
No jardim, a perdição
Nos pés faltando o chão
Sem ser falta de instrução
Do Senhor da criação
Para o pobre homem Adão.
Também Eva queria ser
Para depois entender
Aonde fui me meter
Quando vim comparecer
Na árvore do conhecer
O mal, o bem sem prazer.
E a Adão ao trazer
O fruto do apodrecer
Ao pensar que íamos ser
Igual a Deus ao meu crer
Depois de Adão comer
Quando eu lhe oferecer.
Também eu quis ser Caim
Para ver se o meu fim
Seria assim tão ruim
Quando Deus viesse a mim
Avisando-me do estopim
Que arruinaria-me assim.
Também queria ser Abel
Que contemplava o Céu
Sentindo gosto de mel
Oferecendo em Betel
Minha oração fiel
Sem provar do amargo fel.
Eu queria ser Abraão
Na fé que tinha um montão
Tudo o que Deus disse, então
Sem nunca lhe dar um não
Indo a qualquer torrão
Ao som do vento ou trovão.
E quando Deus me mandasse
Que ao meu filho matasse
Que eu não me desgraçasse
E para o monte marchasse
Mas, logo a lenha lascasse
E lá meu filho queimasse.
Embora um anjo descesse
E lá de cima fendesse
E logo eu entendesse
E também lhe obedecesse
E um carneiro prendesse
E por meu filho morresse.
Eu queria ser Noé
Para ver como que é
Tanto homem ou mulher
Num mundo sem mão, sem pé
Vivendo como quiser
Sem ter sentido de fé.
E do Senhor receber
Sua visita e ver
Que o mundo vai perecer
E ninguém vai perceber
A arca ao se erguer
Para alguns não perecer.
E ver o mundo perdido
De dentro ouvir bramido
Do povo arrependido
Por ter ficado esquecido
Ter meu corpo estremecido
Ao ouvir cada gemido.
E também se precisar
Ao um filho amaldiçoar
Quando eu a delirar
Se pelado pude estar
Se ele ao contemplar
Foi aos outros fofocar.
Em Jacó eu queria ser
Para certeza eu ter
Quando ao pai fosse entreter
Sua benção receber
Para depois merecer
Nas mãos de Esaú morrer.
E minha mãe me mandar
E morrer sem me olhar
Sem nunca mais eu voltar
Só se Deus me apanhar
E algo me revelar
Me devolvendo meu lar.
Eu queria ser Salomão
Sendo sábio de montão
Cuidaria da precisão
De um coitado de então
Se tivesse aflição
Seria sua redenção.
Se eu pudesse ser Davi
E do Senhor sempre ouvir
Ou minha harpa tinir
Ou até mesmo inquirir
Uns salmos pra se ouvir
Sua presença sentir.
Sendo Davi ao pecar
Deus vindo a me salvar
O meu reino confirmar
Para nunca se acabar
Ao meu filho observar
No meu trono a reinar.
Raabe eu queria ser
Aos espiões esconder
Uma aliança tecer
E um sinal descrever
Pra quando acontecer
Pelo cordão nós descer.
Além de salva na fé
Ser a avó de Jessé
Boás, meu filho até
Casou com uma mulher
De onde saiu José
Que morou em Nazaré.
Eu queria ser mais alguém
Da Bíblia que ela tem
Os maus que ficaram bem
Com as aflições que lhes vêm
Na conversão mais de cem
Alcançaram o Amém.
Queria ser um faminto
Tonto qual um labirinto
E sentir dele o instinto
Viver esta emoção
No peito, no coração
E saber que este irmão
É de Deus filho distinto.
Queria me embriagar
Só para poder estar
Na pele deste azar
Poder experimentar
A alegria que tem
Sem se lembrar que é alguém
No mundo a definhar.
Prostituta queria ser
Sem ter nada pra comer
Sair a me oferecer
O meu corpo ia vender
Só pra experimentar
A vida neste azar
E poder me situar
Pra a elas compreender.
Queria ser explorada
Muito baixo rebaixada
Querendo subir a escada
De onde desci calada
Mas, sem força só vontade
Sem ninguém por amizade
Para eu ver de verdade
Os traços que a vida tem
Na vida desse alguém
Que se humilha quando vêem
Nas mãos de um macho uns vinténs
Que a precisão lhe obriga
A descer mais que lombriga
Na podridão da barriga
E achar que passa bem
Queria ser um drogado
Fazendo o pai obrigado
Se desfazer dum bocado
E até pedir fiado
Para me abastecer
Pro vicio satisfazer
Me manter sempre dopado
Com os olhos revirados
De tanta alucinação
Vendo na sombra o cão
No rosto de um ente amado
Querendo me ver queimado
Nas chamas da perdição
Pra eu saber com razão
Que cada desse infeliz
Nunca que será feliz
Mesmo se tiver vontade
De sair dessa cidade
Onde ele pôde entrar
Sem mesmo pestanejar
Ou mesmo sem perceber
Onde que foi se meter
Sem ter chance de voltar.
Queria ser um ladrão
Que por pura precisão
Roubaria até um pão
Para a fome matar
Antes de vir desmaiar
De tanta fome que vem
Porque dinheiro não tem
Mas, é preciso também
Comer, se alimentar
Embora fosse penar
Na cadeia da cidade
E por infelicidade
Os filhos iam chorar,
A mulher ia penar
Talvez até mendigar
Pros filhos alimentar
E pro marido tirar
Da prisão em que está
Esta verdade não há.
Se eu fosse senador,
Deputado Federal,
Prefeito, vereador,
Deputado estadual
Ou mesmo governador
Do estado do Ceará
Será que ia roubar
Quando estivesse lá?
E se fosse presidente
Com a Petrobras na mão
Roubaria feito cão
Para eu apodrecer
De rico como se vê
Como esse povo é contente?
Brigam, ficam até doente
No tempo da votaria
Compram voto todo dia
Por muito ou mixaria
Quem ganha pouco é quem chia
Dessa grande putaria.
De cada um dessa gente
A gente fosse um tiquim
E vivesse um bucadim
A vida que eles têm
Cada um saberia bem
Valorizar mais alguém.
Mas, se eu fosse um anjo
Na face do Criador
E tivesse liberdade
De lhe falar por favor
Eu pediria clemencia
Suplicaria urgência
Na causa de tanta dor.
Meus lábios angelicais
Louvores a Deus diriam,
Meus cabelos loureais
Meus olhos encobririam
Para reverenciar
O Senhor no seu altar
Onde as bases tremeriam.
Meu voar celestial
Seria ao do beija-flor
Incandescente ao voar
Voando pro seu louvor
Em harmonia cantar
Várias vozes sem parar
-Santidade ao Criador.
Sentir o brilho de Deus
Que é transfigurador
Resplandecer e luzir
Da glória do Deus Senhor
Sentir o fogo a arder
Das chamas o brilho ter
Do altar abrasador.
Ser reluzente, polido
Impecável eternamente
Desfrutar a eternidade
Em frente ao Deus vivente
Tanger as hortes do céu
De todo anjo fiel
E do exército o regente.
Teria cores diversas
Nas abas celestiais
Seria vestido do arco,
As cores angelicais
Brilhando eternamente
Vestido sempre e contente
Com as vestes boreais.
Jesus prometeu um dia
Que como anjos seremos
Espero com alegria
O que do Senhor teremos
Como seres angelicais
Nos ares celestiais
Para sempre viveremos.
Noé foi o salvador,
Abraão o escolhido
Jacó foi enganador,
Isaque o prometido,
Rei Nabucodonossor
Matar os magos mandou
Pelo seu sonho esquecido.
Daniel revelador
DO sonho da majestade,
E no Egito josé
Tornou-se rei de verdade
E quando Rainha Ester
Levantou do povo a fé
Dando-lhe a liberdade.
Fabulosos foram todos
Nas mãos de Deus o Senhor
Reinaram e instruiram
A mando do Salvador
Determinaram na terra
muitas vitórias em guerra
Em nome do Redentor.
Ah que eu soubesse falar
Desses homens de valor
E das mulheres de Deus
Do sofrimento ao dulçor
Daria uma odisseia
Da rainha a plebeia
Dos monarcas do Senhor.
Madrugada de 11/02/2015.