O (im)paciente e a dor.
Não sei por onde começar a descrever a minha dor. Só sei que tudo dói, creio que estar encarnado machuca a alma. Queria poder interpretar, exteriorizar, dar forma física a algo que não se pode ver, só sentir. E sentir fundo na pele ou na alma. Dizem que o corpo reflete o que sente a alma. Que nossos pensamentos comandam nossas atitudes. E logo, tenho uma alma dolorosamente deformada. Nos meus pensamentos, só dor. Já não sinto sequer alegria ou prazer em viver. Só sinto obrigação de viver. Não se deixa de respirar, só se respira automaticamente. Quando se habitua a dor tudo parece automático, ninguém se importa com quem tem dor. Habituam-se ao impaciente com dor. Geralmente estes são pessoas carrancudas, mal-humoradas, infelizes e chatas. Isso resumindo os adjetivos. E tudo é assim neste minúsculo universo de quem sofre. Tudo parece o que não é, tudo é injusto demais, pesado em demasia. Minha dor parece maior do que a de qualquer um. Vejo meu egoísmo gritando, blasfemando contra toda a Criação. Dói demais minha aura fina e pesada. Será que a dor nos transforma em seres insensíveis?