SOBRE O RESSENTIMENTO entre o fraco e o forte, em Nietzsche.
A revolução que destronou Deus como elemento capaz de mostrar Caim e Abel como produtos do jogo de dados, do destino. Veio então o Deus cristianizado, e eis que passamos a culpar Caim por sua inveja. Ora, pelo raciocínio cristão seria mais fácil, então, culpar Deus por não perceber que não deveria ter tratado de modo tão desigual dois presentes, um filho de Abel e a produção de Caim. Todavia, antes da cristianização de Deus, este não estava em seu lugar de absoluto por outra coisa senão a de ser mesmo o absoluto: que todos nós saibamos que estamos à mercê de idiossincrasias do destino, tomado absolutamente. Se não pensamos assim, se somos filhos de um Deus cristianizado, começamos a ver as coisas por merecimento. Então, a cada infortúnio, gritamos o quanto fomos injustiçados ou então perguntamos o que estamos fazendo de tão errado para merecermos tal castigo. Castigados mais e mais, logo passamos também a culpar os “fortes”, os que não são castigados, pela nossa desgraça. Isso é parte da revolução moral que irá falar em “bons” e “maus” e não mais em “bons” e “ruins”. Nessa hora, junto com o fora dado no Deus absoluto, que é criador sem ser pai, vão por água abaixo também uma série de valores decorrentes dessa linhagem. Os valores vigentes passam a ser o do Deus que é nosso parente, nosso pai, que são tudo o que faz dos “fracos” merecedores de um “reino melhor” fora daqui, uma vez que, aqui, os infortúnios continuarão a ocorrer.