CRER POR NÃO CONHECER E CONHECER PARA CRER
Aparentemente as expressões “crer por não conhecer e conhecer para crer” são facilmente acessíveis e o seu sentido é rapidamente absorvido pelo intelecto. Mas, talvez não seja assim tão fácil, aliás, como a maioria dos pensamentos. Vamos examiná-las com um pouco mais de profundidade.
Os ateístas, agnósticos, céticos e os racionalistas, várias nomenclaturas que identificam os apologistas da razão, formam o bloco da resistência a quaisquer tipos de crenças ou superstições, enaltecendo a racionalidade, a lógica, nas quais são crentes, com base no seu dogma favorito, o “ver para crer”, o que deveria equivaler a “conhecer para crer”.
O outro bloco, o dos que creem por não conhecer, é formado por aqueles que se dizem religiosos e que, geralmente, são adeptos da grande variedade de denominações teoLÓGICAS, as quais se apresentam como “religiões”, e que têm também os seus dogmas, rituais e solenidades diversas, colocando-se como se fossem intermediárias entre Deus e os homens.
Os dois blocos são adversários (na aparência?), numa polêmica disputa que remonta a séculos, cujas disputas qualificam, erradamente, como um confronto entre a razão e a fé, ou entre a ciência e a religião, quando na verdade, trata-se apenas do confronto entre a razão que explora objetivamente e a mesma razão que explora subjetivamente os seus semelhantes, tanto aqueles que “não sabem e não sabem que não sabem”, como aqueles que “creem por não conhecer”. Esse equívoco decorre da incompreensão de que as denominações teoLÓGICAS são instituições da mais pura racionalidade, onde a LÓGICA está no seu próprio nome. A grande maioria dos seus adeptos, frequentadores regulares das suas solenidades, são seguidores de tradições familiares, totalmente incapazes de identificar a diferença dessa postura, com a efetiva pretensão de obter o conhecimento espiritual, para então, ultrapassar a linha divisória entre a crença (fé) e o verdadeiro conhecimento de Deus, cujo conhecimento dispensa a fé. Alguns deles acabam percebendo que essa procura é pessoal, individual e não institucional, e assim, assumem a sua individualidade, mergulhando no voo solo, independente, o melhor, senão o único caminho a ser seguido, sem fanatismo, sectarismo, sobretudo, sem ser enganado.
O bloco dos idólatras da razão, especialmente os mais radicais, é formado por pessoas que se encantam com a racionalidade, adorando os chamados “cientistas”, de modo especial os astrofísicos teóricos, que formulam habilmente as suas fantasias sobre o Universo, (eles nem sabem o que é o Universo) cujas fantasias as “antenas repetidoras” instaladas nos “cientistas” menores e nos idólatras da razão, os quais, abandonando o seu dogma favorito “ver para crer”, se encarregam de propagar, como se fossem conhecimentos incontestáveis, ajudando e usufruindo dos benefícios pecuniários da “ciência” que, assim como as “denominações teoLÓGICAS” criaram o seu “mercado da fé”, também criaram o “mercado das ilusões” (que não deixam de ser fé), ambos convertidos em intensas atividades comerciais, em rendosos negócios, como a produção de vídeos para a televisão, produções literárias, escolas de ensino, negócios imobiliários, canais de televisão, prêmios, honrarias, etc.
Com efeito, a semelhança e a compatibilidade racional, de um lado, e as simuladas divergências, do outro lado, configuram o paradoxo da razão, estampado na sua auto-idolatria de um lado, e na própria imagem, camuflada como transcendental do outro lado, sendo esta última versão, a mais velha e mais astuta que a primeira, ambas irmanadas como a Oolá (a Oolibá está nos “Príncipes da Terra), mestras na exploração da ignorância e das misérias de uma Humanidade embevecida, estarrecida, pervertida, fratricida e suicida, mergulhada no caos. No centro, entre o fogo cruzado das duas versões da arrogante e astuta razão, estão os subnutridos no intelecto, os ingênuos e também os supostos espertos, o enorme contingente dos que “não sabem e não sabem que não sabem”, contribuindo generosa e abundantemente com os recursos financeiros, conferindo o poder político e ainda o “status” de ícones da “ciência humana” para uns, e de “deuses, semideuses”, ou no mínimo, de “representantes de Deus”, para outros.
É certo que existe um terceiro bloco, conciliando a racionalidade com a espiritualidade, uma minoria, os quais vivem mais isolados, distantes dos conflitos e das divergências (simuladas?) entre os dois outros blocos, mas os seus integrantes falam uma língua incompreensível, fora do alcance dos beligerantes, uma língua oriunda do sublime, o êxtase da realidade, inserida na profundidade de uma abstração suprema, só existente no mais profundo interior da mente, absorvida pelo espírito, intransferível para o mundo exterior. E aí estamos nós diante do número TRÊS: uma terça parte para cá (33,3) e duas terças partes para lá (66,6). O bloco que fala essa língua incompreensível, como parece evidente, não é formado por “professores”, pois o conhecimento não é uma propriedade individual e exclusiva, mas o resultado de uma construção baseada numa multiplicidade de colunas de sustentação, que ultrapassam gerações, fora do nosso alcance. Podemos compreender que, da mesma forma que os conhecimentos racionais, também os conhecimentos espirituais são construídos numa sobreposição progressiva, estabelecendo-se através de um elemento comum, ou seja, a evolução, que assim como tudo o que nos rodeia, também tem uma origem. A localização dessa origem, é uma decorrência do poder de abstração dos indivíduos, sobretudo no acesso mental à realidade sublime, e isso vale para os idólatras da razão e para os supostos “religiosos”.
Contemplando o caótico cenário em que o Planeta Terra se encontra atolado, graças, inteiramente, à administração racional, podemos imaginar, se não seria interessante ao Homo Habilis devolver a sua racionalidade, pedindo desculpas pelo seu mau uso, e retornar ao “paraíso da ignorância absoluta”, onde não há o conhecimento do bem e do mal, e onde ele se comportaria “inteligentemente” por instinto, como todos os outros animais. Certamente, o Planeta Terra iria agradecer, pois seria a restauração das suas possibilidades de sobrevivência. Então, Prometeu teria que devolver a centelha do fogo divino que roubou, devolvendo também a Zeus, Pandora, o presente de grego enviado aos homens, a primeira mulher criada por Hefesto e Palas Atena, com os atributos que lhe foram conferidos por Afrodite (a beleza e o encanto), por Palas Atena (as tarefas femininas), por Hermes (a astúcia, o fingimento, a mentira e o dom da palavra) o qual a chamou de Pandora, Quanto a Prometeu, ele terá que aguardar muito tempo, até que Hércules venha libertá-lo das correntes que o deixaram à mercê da poderosa águia, que vem dilacerando-lhe o fígado.
Cá entre nós, que venha logo o Hércules, se possível acompanhado de Mercúrio, pois já não há mais fígado (e estômago) que aguente!