SE VOCÊ QUISER, VOCÊ DITA AS REGRAS PARA OS POLÍTICOS
Políticos brasileiros pensam que ser político no Brasil é ter habilidade para enganar o povo. Portanto, conseguir qualquer coisa deles requer métodos de psicologia. Sugere-se, então, ao povo, realizar uma engenharia reversa, na qual aquele que quer que o político cumpra com o que se comprometeu a cumprir deve usar da mesma arma: enganá-lo.
Geralmente, os políticos entregam uma obra importante para o povo por gestão. Esperam até o fim do primeiro mandato para fazer isso pelo fim de manterem frescos seus nomes na memória do público como entregadores de obras. Pretendem com isso conseguir votos na base da extorsão psicológica para se reelegerem. Comumente, os administradores públicos viabilizam mais projetos em seus segundos mandatos do que em seus primeiros. Isso porque ficarão ausentes dos postos mais visíveis pelo eleitorado por pelo menos quatro anos e porque terão a árdua missão de conseguir votos para um correligionário dar continuidade do partido nesses postos.
A função do eleitor não é só a de eleger candidatos a cargos públicos, é também a de pressionar os gestores eleitos a entregarem suas promessas de campanha, por mais magnânimas que elas possam ser, desde o primeiro ano de gestão. "Povo" deveria ser uma profissão. Uma profissão que visasse propor as obras necessárias para a população, pressionar os administradores públicos para viabilizá-las e fiscalizar o que é entregue. Todos nós deveríamos ter um tempinho para exercer essa profissão além da titular. Precisamos ter vontade de cuidar dos nossos interesses por nós mesmos e sairmos da dependência do Estado.
Se "povo" fosse uma profissão, anular-se-ia a necessidade de haver sindicatos e partidos políticos. E o trabalho que essas duas instituições fazem desde que foram inventadas seria muito melhor realizado. Há sindicatos, como o das telecomunicações, que só usam o imenso rol de trabalhadores que possui a categoria para explorar a contribuição sindical que esses trabalhadores são obrigados a ter descontado em seus salários uma vez por ano.
Eis uma arma que o povo pode usar para forçar os políticos a entregar obras. O primeiro passo é fazê-los entregar uma obra logo no primeiro ano de trabalho. Somente nesse momento haverá um esforço maior por parte da categoria povo (boicotes, abaixo assinados e outros instrumentos eficazes em vez de manifestações). A Oposição, entregando ou não os políticos em situação seus projetos, tentará seduzir o povo a criar uma imagem negativa da gestão vigente. Isso é um crime consentido que há nessa política cretina brasileira. Nesse mês de janeiro último se viu isso à revelia: diversos governadores, deputados, senadores, ministros e até o presidente da república tomaram posse e a primeira reação que se esboçou, abertamente via mídia, foi o de tentativa de inibição de suas vontade de trabalhar em vez de voto de confiança.
Conseguido a entrega da primeira obra, o próximo passo é o povo enaltecê-la, por mais mesquinha ela possa ser, esfregando na cara da mídia, para que tomassem conhecimento a elite governante e os políticos de oposição, que também podem entregar obras em vez de ficar só na picuinha, que o candidato em gestão irá receber o voto do povo em razão de ter cumprido o dever de por projetos em prática.
Isso estando visível força a Oposição a viabilizar também os projetos que usaria como trunfos de campanha, uma vez que os membros dela perceberiam que a estratégia de recrutar eleitores na base da mesquinharia não estaria funcionando e que se eles não colocassem em prática algo para aniquilar a popularidade do político em gestão, fatalmente perderiam a próxima eleição e minguariam mais quatro anos nas cadeiras da oposição. Isso eles não querem. Interessa menos para eles. Hoje ainda se lê: rende menos.
Uma vez forçada a oposição a agradar o povo com investimentos e realizações de benefícios – obras, programas sociais, leis úteis –, a Situação ficaria de mãos atadas, sem poder se manter na inércia que visa a atuação somente no segundo mandato, e replicaria. Entregaria mais obras para retomar a popularidade. E nesse braço de guerra entre Oposição e Situação visando conquista de votos para continuar no poder, o público é quem ganha. O público é quem dita as regras e quem engana o político.