OS TAMBORES PARA IEMANJÁ

O barulho das ondas do mar quebrando na areia em meio a ressaca foi substituído pelo rufar dos tambores; uma batida intermitente, cadenciada, como um chamado pela madrugada afora.
E eles continuam soando no mesmo ritmo, sem mudar o compasso, como uma súplica à Rainha das Águas - IEMANJÁ.
Chegou fevereiro e nossa praia se enfeita de branco, de danças, de flores, de oferendas, numa fantástica demonstração de fé e credulidade.
Eu que não professo religião nenhuma, me encanta ver tanta devoção, tanta doação. São milhares de pessoas que, na maioria das vezes, enfrentam até sacrifícios para chegar até aqui na beira da praia, fazer suas preces, doar seus presentes e agradecer a santa de sua devoção.
Amanhã, quando tudo terminar, a praia estará repleta de flores, perfumes, frutas, velas, garrafas, barquinhos azuis esvaziados pela brutalidade das ondas do mar em ressaca. O mar não perdoa, o que não é seu ele devolve para a areia da praia.
E todo o ano é a mesma multidão... O mesmo cenário... Os mesmos tambores com seu ritmo igual e o mesmo mar devolvendo tudo.
E Iemanjá? Onde está que devolve tudo? Tantos mimos ofertados e feitos com tanto esmero jogados na areia... Não consigo entender... Na maioria são pessoas humildes que ficam acampadas onde podem e como podem. Viajam, gastam até o que não tem para estarem aqui homenageando sua deusa - e são milhares!
Todos rezam, cantam, dançam e eu fico assistindo maravilhada com tudo sem nada entender.
Em meio a essa exuberante demonstração de religiosidade me vejo como um pária no meio da multidão.
Nestes momentos sinto a grande solidão de não ter fé.
Mesmo assim:

SALVE IEMANJÁ!
 
WALDEREZ SEVERO SMIDT
Enviado por WALDEREZ SEVERO SMIDT em 31/01/2015
Reeditado em 16/05/2015
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