O Muro

Quando era pequeno, caminhava na vila, que era pobre porém feliz. Ao lado da minha casa, um imenso muro cortava uma grande extensão da minha vila. Histórias sobre o que havia ali sempre exisitiram, embora ninguém tenha conseguido transpor aquele muro imenso e vislumbrar o que havia além dali.

Meu mundo se resumia ao muro e o que havia atrás dele, minha pobre vila. Enquanto crescia, via cada vez mais e mais pessoas da minha vila perdendo suas vidas, umas na tristeza, outras na solidão, outras, na saudade... E pensava, minha infância era tão feliz, por que essas pessoas sofriam? Comecei a caminhar pelo muro um dia, pensando que minha vida estava ficando também vazia... Aquele muro me sufocava, mas o medo da descoberta me atormentava. Percebi ao longo dos anos que o muro não estava só a minha frente, mas aos lados, atrás, em todo lugar... O muro era o que me cercava e aí o que mais me aterrorizou foi saber que não era feliz na infância, só não tinha me dado conta do que acontecia. O pão na mesa nunca faltara, mas a face de meus pais sempre era entristecida...

O que fazer em tal calamidade? Corri a extensão do muro, a procura de uma porta, uma passagem, mas nada. Era um muro alto, alto que ao olhar a vista cansava.

Todos diziam ser impossivel transpor o muro e então pensei: "Realmente, não dá!"

Aquilo me inquietou por mais um tempo e continuava vendo mais e mais pessoas perderem suas vidas em desespero e dor, esmurrando aquele muro, que em nada se mexia ou se abalava.

Por fim, só sobrara uma coisa a fazer: escalar o muro. A altura não foi o problema, mas com seu material, era dificil me apoiar. Meus dedos doiam, meu rosto suava, mas não desisti. Quando olhei para baixo estava alto demais para voltar.

A escalada foi longa, mas ao final de um tempo que não consigo imaginar quanto foi, cheguei ao fim do muro, e o que vi me emocionou...

Foi a primeira vez que sentia o sol da manhã tocar meu rosto...