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Sempre que faço

De um verso um traço

Perco o caminho

Memória tão frágil

Escrevo e apago

Nada me relata

O que quero escrever

Nessa ida me falta

Uma vida

Amores

Eterna Solidão

Me tirou um jardineiro

Do dilema sim e não

Fez fumaça

Fez alarde

Do meu corpo

Tomou parte

De guerreiro

À capitão

Da manhã

Ao fim de tarde

Começou o seu ofício

Sem muita distinção

Para ele era um sim

O que para mim era não

Dorme dorme

Meu príncipe

Em meu peito aconchegado

De manhã acorda louco

Um mendigo revoltado

Diz asneiras

Bate portas

Me lembrando do passado

Penso então se vale a pena

Numa vida tão pequena

Espero um ser iluminado

Pra pesar minha presença

Chega Alice radiante

Luminosa como a neve

Seu sorriso num instante

Deixando tudo mais leve

Ele muda ele esquenta

De manhã é outro homem

Ele ri e cumprimenta

Mas não tarda volta a vida

Seu demonio de anteontem

Sobrou raiva e sobrou fel

Faltou aquele nosso amor

Logo ia desandar

Num furor a minha dor

Fiz as malas dei no pé

Lá se ia minha fé

Não demora cresce o medo

Dando logo marcha ré

Sorte minha e sorte nossa

Engoli a minha bossa

Já há dias que não como

Esse corpo me arrepia

E no susto de um enjôo

Ampliamos a família

Dava as caras minha cria

Me tomava em rebeldia

Parecia um menino

Que com brigas se entretia

Uma fome poderosa

De prazer e alimento

Eu comia e previa

O poder do sentimento

Era ela, minha diva

Demos o nome de Livia

Minha musa romana

Nossa segunda filha

Na aurora da minha vida

Recebi uma estrela querida

Chamei-a de Stela, menina

Meu canto de sabiá

Nos dias que estamos sós

Eu posso me demorar

Enquanto eu a contemplo

Ela está a me contemplar

Se um dia me perguntarem

Porque fugi para cá

Não quero mais os problemas

Que um dia deixei por lá

Aqui a vida tem cheiro

Tem sorriso e tem calor

Me acorda de bem com a vida

Esperando meu amor

Me arranha, me agradece

Com seus olhos me aquece

Busquei tanto as borboletas

Sem saber de nada ainda

Fui criança quando moça

Quando adulta sou menina

Estão em mim e estão nelas

Nesse amor que nos carrega

Em meu ventre ressecado

Por amores maltratado

Regou de vida um jardineiro

Majestoso seu trabalho

Pra fechar sua obra prima

Deu a mim um tanto seu

Ele fez em mim nascer

O melhor do nosso eu

Florescendo em nossas vidas

Três belas meninas

Cashmere
Enviado por Cashmere em 27/01/2015
Reeditado em 27/01/2015
Código do texto: T5115729
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