A Verdade do Amor

O Amor não nasce no coração do velho homem.

"Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam. (Mateus 9.17)"

Que lugar ocupamos no plano da Criação? Quais são as influências e forças que atuam sobre nós? Em que se fundamentam nossas ações? Para responder a essas e outras perguntas necessitamos trilhar a senda do Autoconhecimento. No entanto, não se trata de algo que alcançaremos num futuro próximo ou distante. No momento presente está a chave para o Autoconhecimento.

Devemos experimentá-lo aqui e agora, num estado de absoluta presença, de recordação íntima de nós mesmos. Porém, por que parece tão árdua essa tarefa? A resposta está no tempo, nesta linha horizontal chamada existência.

Nossa vida possui dois aspectos que podem se representados por duas linhas que formam uma cruz: a vertical e a horizontal. A primeira, na perspectiva da Eternidade, representa os distintos níveis de Ser e o caminho que devemos percorrer dentro de nós mesmos. A segunda, por sua vez, representa a existência terrena, desde o nascimento até a morte.

A imagem que temos de nós mesmos comumente se fundamenta na linha horizontal, ou seja, na longa série de eventos que ocorrem em nossa existência. Mas não se trata apenas disso: além das experiências mundanas (eventos, que são de natureza exterior) devemos considerar nossas reações psicológicas diante de tais experiências. Essas reações são mentais e emocionais. Entendamos com maiores detalhes: nós reagimos com pensamentos e emoções diante das circunstâncias da vida. Tais reações nos levam a formar uma autoimagem equivocada que, por sua vez, reforça o ego*, uma legião de "entidades" psicológicas que vivem em nossa psiquê. O ego é nossa identidade ilusória e falsa.

Nós duvidamos facilmente dos mais variados tipos de informação que diariamente se apresentam ao nosso intelecto. Mas não temos a mesma disposição para duvidar de nossa própria mente. O ego é um péssimo conselheiro e, no entanto, nossa consciência adormecida lhe confere autoridade.

Compreendamos melhor toda essa questão com o exemplo do orgulho e do amor próprio. Se, em determinadas situações, não recebemos o reconhecimento alheio por nossos feitos e pelas virtudes que julgamos ter, sentimos frustração e raiva (emoções) e pensamos que os demais são injustos e cruéis, construindo, de tal forma, uma autoimagem de vítimas. Outro caso interessante para analisarmos: um homem que chegue aos quarenta anos de idade e, comparando sua situação socioeconômica com a do irmão ou do amigo, conclui que não alcançou o grau de “sucesso” que sonhou para si. A propósito, comparar-se com os demais é outra “habilidade” mental perigosíssima. Assim, tal infeliz acaba formando uma autoimagem de fracassado.

Apoiados em nossos pensamentos, em nossas emoções e na nossa autoimagem, tomamos decisões equivocadas e atentamos contra nosso Ser (nosso Espírito Divino, que procede de Deus Altíssimo) e contra o próximo. Eis o maior dos mandamentos do Eterno: “Amarás a Deus e ao próximo como a ti mesmo”; algo impossível enquanto continuarmos acreditando no ego e não destruirmos nossa própria autoimagem deturpada.

Como se não bastasse nossa autoimagem ilusória, acabamos construindo uma imagem falsa do outro. A outra pessoa tem seu modo de pensar e de sentir, seus anseios, seus conflitos, etc. Ela não tem a capacidade de ser exatamente quem nós esperamos que ela seja. Isso é óbvio, pois todos temos nossas debilidades.

No início de um relacionamento, ocorrem certas mudanças químicas em nosso cérebro. Desse modo, estamos apaixonados e provavelmente enxergamos a outra pessoa como uma figura idealizada. Nenhum mal nisso, correto?! Afinal, qualquer ser humano normal gosta de vivenciar uma paixão. O problema é que olhamos para o outro a partir de estados psicológicos equivocados, cheios de julgamentos e expectativas.

Neste momento, devemos tomar conhecimento de uma verdade dura e, talvez, incômoda:

- "Nenhum ser humano completa o outro."

Cada um de nós deve se tornar completo por si próprio. Para isso devemos entender e colocar em prática outra verdade:

- "A existência humana não tem sentido próprio; cada homem e cada mulher deve criar um sentido e estabelecer uma direção para a própria vida."

Convém utilizar uma forma simbólica e poética para descrever a imagem de nossa própria vida, na plenitude de uma integridade que nos permita abrigar em nosso coração o ser amado:

- "Devemos construir uma casa segura e acolhedora; na frente dela, um jardim vicejante com uma miríade de cores e aromas que arrebatam a alma..."

Necessitamos dar o primeiro passo: aqui e agora, absolutamente presentes, não seguindo o fluxo dos próprios pensamentos. Devemos nos lembrar de nossa verdadeira natureza:

- "Não somos o corpo, não somos as emoções, não somos os pensamentos... Somos, em verdade, espíritos imortais vivendo uma experiência humana, como peregrinos neste mundo."

Quando rejeitamos ou ignoramos tal verdade, qualquer transformação se torna impossível.

* Ego: termo utilizado num sentido diferente daquele aplicado por Sigmund Freud

Fabio Araujo
Enviado por Fabio Araujo em 20/01/2015
Código do texto: T5107940
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