PEQUENAS INJUSTIÇAS, PROBLEMAS IMENSOS
PEQUENAS INJUSTIÇAS, PROBLEMAS IMENSOS
Com tantos acontecimentos escabrosos ocorridos em nossa sereníssima república, como diria Paulo Brossard, penso: “O povo brasileiro é muito passivo! Até quando?”. Como se tivéssemos um limite em nossa tolerância e, quando os escândalos o atingirem, tomaremos a postura de acabar, de uma só vez, com toda a desonestidade, corrupçãp, e todas as mazelas do nosso povo. Aí sim, viveremos num país justo, igualitário, povoado só de gente honesta. Não é assim que funciona. Tudo que é grande constitui-se de pequenas e minúsculas partes. Não tem como ignorarmos isso. A matéria é feita de átomos, que por sua vez constituem-se de partículas menores ainda. As grandes obras literárias são escritas letra a letra, que formam as palavras, que formam as frases, que formam capítulos e por ai em diante. E tudo que existe é resultado de uma construção, quer para o bem, quer para o mal. Para ocorrer um mensalão ou um petrolão é preciso de uma imensidão de pequenas transgressões, como parar em fila dupla, furar fila de cinema, jogar papel no chão, dar gorjeta para policial, subornar garçom em festa. Ao ler isto muitos dirão: “-Que bobagem! O que tem a ver parar em fila dupla com roubar milhões da Petrobrás?” Tem duas coisas: cultura e consciência. E, lógico, uma infinidade de outros fatores que possibilitam essa frequência horrorosa de crimes contra nossa sociedade da qual a gente acha que não faz parte. Nós somos parte integrante e talvez os maiores responsáveis por esses ocorrências.
A prática de ações fora de ética, ou seja, que nos beneficiam de maneira imoral através de um comportamento anormal e que nos dá vantagem em relação a outras pessoas, cria uma cultura. É a cultura da esperteza, da impunidade, de se orgulhar por ter obtido resultados sem trabalho. E essa cultura distorce os valores básicos de uma convivência social e cria uma nova consciência . E embasados nesse olhar distorcido os roubos são cometidos. Some-se o incentivo da impunidade, dos privilégios que o dinheiro proporciona no Brasil, de outras “cositas mas” e teremos o caldo cultural ideal para essas ocorrências. E o fator primordial, que incentiva essa situação é a passividade de nosso povo. Como se nossos dirigentes fossem atores em um teatro sem público. Nem aplaudidos nem ovacionados, eles atuam da maneira que querem, pois não têm platéia para avaliá-los.
Às vêzes, jogar uma ponta de cigarro no chão pode acabar num petrolão. E sabe Deus o que vem por aí.