ZOMBIE

Me senti na hora, de botar tudo isso pra fora, resolvi escrever um pouco sobre aquilo que me engasgava, mas não vou escrever aqui um texto gigante, e cheio de sinais e símbolos , até porque eu não sei usar todas as teclas deste computador, vou deslisar os dedos nestas letras...

Eu sou feito de vontades , antes de pele e osso, e dentro, tenho uma alma nada imaculada, que as vezes sente tantas coisas absurdas , que eu não posso de jeito nenhum, deixar transparecer na carne, sentimentos triviais para os cultos, mas não me vejo nesse adjetivo , sempre preferi ser aquele de calças curtas e sapatos gastos, e por onde passei , sempre procurei não chamar tanta atenção, porque de certo modo, não seria recíproco de minha parte, compactuar com as pessoas, por isso o anonimato sempre me serviu como uma luva, aquele silêncio parecia incomodar algumas pessoas, que se sentiam obrigadas a interagir comigo, mas acabavam desapontadas logo de cara, eu não sei , mas atualmente estou bem pior que isso, minhas vontades são lúgubres , teve dias que minha vontade era de cair no mar, afundar e passar pelos recifes de corais, e continuar afundando, até perder todo o ar, seria muito mais lindo, perder o ar vendo as criaturas daquele fundo, que viver na superfície tentando respirar, mas tinha medo de água, e não conhecia o mar, então pensava em cair duma montanha , daquelas rochosas, de filmes que se passa na neve, sentir o vento da queda livre, e as gotas entrando nas narinas , mas nunca cair no solo, permanecer em queda livre por algumas horas, até cair no colo de um lobo, que me ensinara a caçar, e que me abandonaria apenas , quando o gelo o cobrisse por completo, mas aquilo era muita ficção , para se pensar deitado no asfalto , feito pelo avô há mais de 10 anos atrás.

Se sentir com costas quentes, e cuspir sangue grumoso pela boca, esse não era o fim para mim, eu teria de imaginar muito além, morrer todos os dias de formas cotidianas, era massante, e demasiado , mas as vezes é o que sinto mais próximo de mim, enquanto as vozes atravessam minha cabeça, como lanças de tribo africanas, com veneno nas pontas, " aluguel, comida, desemprego, desilusão, desamor, desconfiança" tudo na ponta da lança, que vem de todos os lados da selva, caindo do céu, como chuva em pleno ponto culminante do sol, incrível como todas elas me acertam em cheio, mas nenhuma delas me derruba, me transformando num zumbi, cambaleado , que se escora no metrô, infestado de animais selvagens, prontos pra me verem cair, mas eu nunca consegui dar isso a eles, eu era um zumbi, mas um tanto orgulhoso.

Robert Ramos
Enviado por Robert Ramos em 17/01/2015
Código do texto: T5104784
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