"Seu" Darci
Hoje, pela manhã, bem cedo, conheci o “Seu” Darci, que, a partir de agora, chamarei apenas, mas com respeito, de Darci.
É um homem simples, de poucas letras, mas com uma experiência dolorosa de vida. Tem 62 anos, o corpo esquálido, barba por fazer, rosto queimado pelo sol e nem um dente na boca, mas é “forte e saudável”, como ele mesmo se expressa.
Deixou sua família, aproximadamente, há vinte e dois anos, e, sequer, olhou para trás. Esposa, filhos, pai, mãe etc ficaram no passado. Nunca mais teve, segundo ele, contato com nenhum deles. A separação ocorreu em função, de acordo com o que falou, por culpa da esposa, que era ciumenta em excesso e brigava com ele por qualquer motivo e em qualquer lugar, tivesse ou não alguém por perto. Quanto ao ciúme, ele disse que até gostava, quando era pouco, mas, quando incontrolável, não fazia bem. Quanto às brigas, nunca aceitou o fato de ocorrerem na frente de outras pessoas, pois acha que os problemas do casal deveriam ser resolvidos em casa e apenas entre o marido e a mulher.
Ele é natural de Ibertioga/MG, distante 218 km, de Belo Horizonte, a capital mineira. É uma distância pequena, para ser percorrida, de uma cidade à outra, mas um espaço abissal, para quem não quer saber do seu passado.
Durante a nossa conversa, Darci chorou por duas vezes, não por saudades de seus parentes, mas pelas dificuldades pelas quais já passou. E não foram poucas. Fome, desprezo, medo, angústia e toda sorte de sentimentos, que permeiam os corações daqueles menos favorecidos.
Quem é o Darci? É um morador de rua, que busca no lixo o seu sustento. Passa praticamente desapercebido pelas pessoas, a não ser quando incomoda alguém, apenas pela sua presença, pois, como disse, não procura confusão com ninguém. Vive de vender o que é descartado pelas pessoas. Acha algo de valor e vende por qualquer quantia, suficiente para tomar uma pinga, da qual não consegue se livrar. Hoje de manhã, já tinha bebido um café e tomado uma cachaça. Não havia comido nada, não por não ter dinheiro, apesar de pouco, mas por ser esse o seu costume.
Do que me adiantou conhecer e conversar com o Darci? Pude constatar o quanto sou abençoado com tudo o que sou e tenho. Graças a Deus por minha vida, meu casamento, minha esposa e filhas e também pelo meu genro, presente que Ele me deu.
Ainda tem gente que reclama de tudo e de todos. Deviam conversar com o Darci.