Condenada
Eu grito, a voz abafada, oca sem vida... Estou só!
Guardada dentro de mim mesma, perdida nas sombras, congelada pelos meus sentimentos, adormecida sem esperanças de despertar um dia. Uma alma velha presa em um corpo jovem.
As tentativas de me consertar são completamente infundadas, eu não estou quebrada eu apenas vivo em um mundo onde os erros jamais poderão ser perdoados, onde as mágoas se tornam uma tempestade de dor e desespero, onde a dor é apenas...Real. E por anos se ouve a mesma melodia regida pela melancolia. As pessoas procuram formas e maneiras de decifrar-me, em vão. Tudo é transformado insanamente pelo mecanismo de autoproteção criado pelas dores e mentiras e eu aqui apenas observo e assisto as pessoas viverem TUDO o que eu nunca pude viver.
Apenas observo distante o seu caminhar tentando encontrar uma forma de entender como posso viver sem você. Como torna-lo parte de mim, como a tudo isso....
Você sorri e eu me estremeço, você chora e eu me desespero, você grita e eu tento amparar-te, mas você está longe demais, tão distante que é impossível alcança-lo tão irreal que acreditar na possibilidade de vive-lo é no mínimo insana.
Eu sou o Nada, sobrevivendo em um mundo onde EU sou fundamentalmente a base da vida, onde os sentimentos se perdem em pilhas de mentiras contadas e que seus próprios contadores lhe dão vida e acreditam em sua existência, onde o perfeito é tão imperfeito que se torna belo, onde as histórias são contadas por pessoas que nunca viveram ou protagonizaram tais experiências, onde a verdade se torna mentira, e a mentira se torna futilmente necessária para que as pessoas possam continuar a escreverem suas histórias em areias... levadas pelo tempo, sopradas para muito longe pelos ventos, onde se perdem e se esquecem...
Onde o medo habita cada alma, e dilacera cada coração apaixonado, desiludido, sangrando e desesperado, tentando desesperadamente juntar seus cacos, remendando cada corte estancando o sangue que esvai tão docemente, uma beleza extraordinária ao inverso, onde pessoas se escondem atrás de máscaras lindamente confeccionadas, abrilhantadas por histórias maravilhosas assistidas por olhos inocentes...
Faça de meu coração um lugar melhor, dê-me algo em que eu possa acreditar, não faça tudo ao meu redor ficar tão ruim... rugem em agonia aqueles que um dia experimentaram tal dor e suplicio...
Eu sou o Nada...
Eu sou o grito dos desesperados, abafados e sem vida!
Eu sou a Morte da Ilusão...
Eu sou o Amor... O ódio... O Desespero... O Frio... A escuridão O Vácuo... O Desconhecido...
O espaço de tempo entre o respirar e o expirar...
Eu sou o seu maior medo.
Eu sou as histórias que você conta a sí mesma com finais felizes, as mentiras que você precisa para continuar vivendo neste mundo de fantasias que você criou...
Perdida nas sombras, suplicando por um sinal, alguém pode me ouvir?
Apenas uma garota amargurada, rebelando-se contra todo o sistema...
Criança minha, meu coração foi me arrancado desde a criação, eu sou a imensurável dor dos aflitos, mãe de todas as dores, aquela que jamais perdoa, olhos vazios e vagos na escuridão eu sou as promessas quebradas, as decepções, a dona de todos os corações tristes, eu sou a Balança...
Eu sou a Rainha dos Condenados
...E todos os corações aflitos e as vidas perdidas me pertencem...