Após certa idade e com o passar do tempo...

.......a gente começa a notar mais nas árvores, nas plantas, no cheiro do mato, começa a notar e a gostar dos pássaros muito mais, casca das árvores, o tamanho delas, começamos a notar o rio que passa perto de nossa casa e imaginar que sempre vai ser assim, devemos ser como um deles, nunca parar. Amamos a chuva mais do que tudo porque ela não mais nos atrapalha para sairmos, para irmos para a balada louca que nos espera com roupas sequinhas, perfumados, com um pensamento fixo em arrumar uma paquera rápida que nos tira da solidão rapidamente, amor pronto, não construído. Não tem problema se a chuva nos pegou no meio do caminho, água é benção, ficar molhado nos remete ao passado quando éramos crianças e brincávamos na chuva, tentando acertar uma bola molhada um no outro, escorregando, se encharcando e rindo até perder o fôlego. O mato era o mato que amávamos descobrir sem medo de ser assaltados, sem ter que voltar para casa correndo e nos encarcerarmos dentro de muros altos, com cercas elétricas, seguranças que pagamos e que apitam as suas buzinas de suas motos em frente das nossas casas para nos passar uma falsa sensação de segurança, e grades, muitas grades, até nas pequenas janelas do banheiro. Com o passar do tempo, sentimos pena de pisar uma formiga que atravessa o nosso caminho com uma folha enorme nas costas e ficamos pensando como ela consegue levantar e carregar um fardo tão grande com um corpinho tão pequeno? Após certa idade começamos a chorar mais, sentir pena mais, perdoar muito mais, amar mais e achar mais graça na graça de uma criança, mesmo as birrentas. Achamos lindo o “bom dia” do velho que parece que faz questão de dizer “bom dia” somente para se comunicar com alguém naquele dia, para mostrar que os velhos ainda são os certos, dar um “bom dia” para eles é a coisa mais certa nas incertezas dessa vida. É o seu meio de comunicação de somente duas palavras. São pessoas solitárias porque os filhos já foram embora para viver a própria vida deles, muitas de suas famílias foram para outros estados por causa de um emprego, do dinheiro e não puderam levar os seus velhos, eles vem visitar quando podem. Às vezes são viúvos já deixados no mundo pelo seu cônjuge e simplesmente sorriem, dizem bom dia, passam muitas vezes devagar com uma bengala, cabelos brancos, de óculos porque a luz já está indo embora aos poucos, sempre respeitosamente dando passagem para os mais novos como que entendendo e finalmente aceitando que o tempo deles já chegou, tem que dar passagem para os novos, para a juventude, mesmo que essa não os entenda mais porque não usam e nem sabem usar a tecnologia. Mas eles ainda pensam no mundo de um modo especial e romântico. Muitos deles, dos velhos, ainda tentam ser modernos para acompanhar o mundo, mas não conseguem, tentam de verdade, mas é um esforço grande demais para quem a vida era tão simples: levantavam o telefone e falavam, quando sentiam saudade era só visitar e colocar a conversa em dia, os filhos não iam embora porque tinha emprego para todos na própria cidade. Gostosas cadeiras na calçada, sorrisos e muita risada. Não precisavam se comunicar via online, a “sua rede social” não era do Japão, não era dos Estados Unidos, era ali mesmo na calçada, frente a frente com os seus filhos, com os seus vizinhos e com os seus amigos. Quando na dúvida de um assunto, de estudar uma cultura, de um trabalho escolar, passavam horas em uma biblioteca da cidade onde era proibido fazer barulho para não atrapalhar os estudos dos outros. Pegávamos livros, líamos avidamente e no dia devido para entregar, íamos correndo para não pagar multas e enfrentar a cara feia da Bibliotecária. Hoje o Google faz tudo para nós, nos dá todas as respostas que precisamos e até as que não precisamos e não perguntamos, nos direciona e nos tira a personalidade, evita de pensarmos, de raciocinarmos, tudo pronto, tudo congelado, é só esquentar e comer, mesmo sem sabor e mesmo sem termos apetite!

Mas o DIA do sorriso no rosto vai voltar, o dia do respeito aos velhos vai voltar, o dia de amarmos sem interesse “vai ter” que voltar, o dia do “bom dia” voltará, o dia de cadeiras na calçada e troca de amabilidades vai voltar, o dia de devolvermos ao velho o seu cordial “bom dia” vai voltar, mesmo por parte dos adolescentes, o dia de valorizarmos aquilo que somos mais do que aquilo que temos há de voltar! E nesse dia então saberemos o que realmente importa e o que realmente é a Felicidade em sua essência!

Paulo Eduardo Cardoso Pereira
Enviado por Paulo Eduardo Cardoso Pereira em 07/01/2015
Reeditado em 07/01/2015
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